Estudos Bíblicos

O Cordão de Três Dobras – por Luciano Subirá


A Bíblia diz em Eclesiastes 4.9-12 que “melhor é serem dois do que um”, mas termina falando sobre o cordão de três dobras e revelando que é melhor serem três do que dois. Fica implícito que a conta de uma terceira dobra no cordão está mostrando que o “time” aumentou.
“Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade.” (Eclesiastes 4.12)
Salomão afirma que se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão. Isto mostra que um cordão dobrado oferece maior resistência. Porém, ao acrescentar-se uma terceira dobra, ele fica ainda mais resistente! Se há benefícios em ser dois, há muito mais em ser três!
Como já afirmamos, Salomão não fez esta afirmação direcionada exclusivamente ao casamento; ele fala de relacionamento de um modo geral. E, em qualquer relacionamento, a terceira dobra poderia ser mais uma pessoa. Porém, quando examinamos a revelação bíblica acerca do casamento, descobrimos que, no modelo divino, deve sempre haver a participação de uma terceira parte. E isto não fala da presença de algum filho e nem tampouco de um (abominável) triângulo amoroso! Fala da participação do Senhor no casamento.
A presença de Deus é a terceira dobra e deve ser cultivada na vida do casal. Adão e Eva não ficaram sozinhos no Éden, Deus estava diariamente com eles e, da mesma forma como idealizou com o primeiro casal, Ele quer participar do nosso casamento também!
Vemos esta questão do envolvimento de Deus na união matrimonial sob três diferentes perspectivas:
1. Deus como parte do compromisso do casal;
2. Deus como fonte de intervenção na vida do casal;
3. Deus como modelo e referência para o casal.
UMA DUPLA ALIANÇA
Como já afirmamos no primeiro capítulo, o casamento é uma aliança que os cônjuges firmam entre si e também com Deus. O Senhor, através do profeta Malaquias, referiu-se ao casamento como sendo uma aliança entre o homem e a sua mulher:
“Porque o Senhor foi testemunha da aliança entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira e a mulher da tua aliança”. (Malaquias 2.14)
A esposa foi chamada por Deus como “a mulher da tua aliança”, o que deixa claro qual é o enfoque bíblico do casamento. Esta aliança matrimonial não é apenas uma aliança dos cônjuges entre si, mas do casal com Deus. O matrimônio, portanto, é uma dupla aliança. Malaquias diz que Deus se faz presente testemunhando a aliança do casal. O mesmo conceito também nos é apresentado no livro de Provérbios:
“Para te livrar da mulher adúltera, da estrangeira, que lisonjeia com palavras, a qual deixa o amigo da sua mocidade e se esquece da aliança do seu Deus”. (Provérbios 2.16,17)
Novamente as Escrituras condenam o abandono ao cônjuge, pois neste texto, assim como em Malaquias, a infidelidade é abordada. Nesta situação, é a mulher quem foi infiel ao amigo de sua mocidade e é chamada de alguém que se esqueceu da aliança do seu Deus. A palavra “aliança”, neste versículo de Provérbios, fala não apenas da aliança entre os cônjuges, mas da aliança deles com Deus. Fala da obediência que alguém deve prestar à Lei do Senhor e também se refere ao matrimônio como uma aliança da qual Deus quer participar.
No Antigo Testamento vemos Deus, por intermédio de Moisés, seu servo, entregando a Israel dez mandamentos que se destacavam de todos os demais. Eles foram chamados de “as palavras da aliança”: 
“E, ali, esteve com o Senhor quarenta dias e quarenta noites; não comeu pão, nem bebeu água; e escreveu nas tábuas as palavras da aliança, as dez palavras”. (Êxodo 34.28)
Um destes mandamentos mostra que preservar o casamento não é apenas uma obrigação da aliança contraída entre os cônjuges; é parte da aliança firmada com o próprio Deus: “Não adulterarás” (Êx 20.14). As ordenanças do Senhor foram escritas (incluindo a ordem de não adulterar) e o livro onde foram registradas passou a ser chamado de “o livro da aliança”:
“Moisés escreveu todas as palavras do Senhor… E tomou o livro da aliança e o leu ao povo; e eles disseram: Tudo o que falou o Senhor faremos e obedeceremos. Então, tomou Moisés aquele sangue, e o aspergiu sobre o povo, e disse: Eis aqui o sangue da aliança que o Senhor fez convosco a respeito de todas estas palavras.” (Êxodo 24.4a,7,8)
Portanto, o casamento é uma dupla aliança; é uma aliança dos cônjuges entre si, mas também é uma aliança de ambos com Deus. Logo, o Senhor está presente na aliança, no compromisso do casamento. Esta é uma das formas em que Deus pode ser a terceira dobra no relacionamento conjugal.
EDIFICAR COM A BÊNÇÃO DE DEUS
Outra forma como Deus pode e quer participar no casamento é podendo intervir, agir em nossas vidas e relacionamento conjugal. Não temos a capacidade de fazer este relacionamento funcionar somente por nós mesmos; aliás, temos que admitir nossa dependência de Deus para tudo, pois o Senhor Jesus Cristo mesmo declarou: “sem mim nada podeis fazer” (Jo 15.5). A Palavra de Deus nos ensina que precisamos aprender a edificar com a bênção de Deus, e não apenas com nossa própria força e capacidade: 
“Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela.” (Salmo 127.1)
“Edificar a casa” é uma linguagem bíblica para a construção do lar, não do prédio em que se mora. Provérbios 14.1 declara que “A mulher sábia edifica a sua casa, mas a insensata, com as próprias mãos, a derriba”. Isto não quer dizer que temos uma mulher “pedreira” e outra “demolidora”, pois o texto fala do ambiente do lar e não de um edifício físico.
Há ingredientes importantes para edificação da casa (Pv 24.3), mas o essencial é cultivar diária e permanentemente a presença de Deus.
PARECIDOS COM DEUS
Uma outra maneira como Deus se torna parte em nosso casamento é como modelo e referência para nossas vidas. O Senhor é o padrão no qual devemos nos espelhar!
“Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados.” (Efésios 5.1)
O Novo Testamento revela com clareza que o plano divino para cada um de nós é conformar-mo-nos com a imagem do Senhor Jesus Cristo:
“Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.” (Romanos 8.29)
As Escrituras declaram que fomos “predestinados” (destinados de ante-mão) para sermos conformes à imagem de Jesus! Cristo é nosso referencial de conduta; o apóstolo João declara que “aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou” (1 Jo 2.6). O apóstolo Pedro afirmou que devemos seguir os Seus passos, o que significa: caminhar como Ele caminhou (1 Pe 2.21). A transformação que experimentamos na vida cristã é progressiva (a Bíbia chama “de glória em glória) e tem endereço certo: tornar-nos semelhantes a Jesus (2 Co 3.18).
O Senhor Jesus atribuiu ao “coração duro” o grande motivo da falência do matrimônio (Mt 19.8). As promessas de Deus ao Seu povo no Antigo Testamento eram de um transplante de coração (Ez 36.26); o Senhor disse que trocaria o coração de pedra (duro, da natureza humana decaída) por um coração de carne (maleável, com a natureza divina). A nova natureza deve afetar nosso casamento. Se Deus passar a ser o modelo ao qual os cônjuges buscam se conformar, certamente se aproximarão um do outro e viverão muito melhor!
Pense em dois cônjuges cristãos manifestando as nove características do fruto do Espírito (Gl 5.22,23): “amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio”. Se manifestarmos a natureza de Deus, andaremos na plenitude do propósito divino para os relacionamentos.
Cresci ouvindo meu pai dizer (e aplicar em relação ao casamento) o seguinte: “Quando duas coisas se parecem com uma terceira, forçosamente serão iguais entre si”. Ele dizia que se o marido e a mulher vão se tornando parecidos com Deus, então eles ficam mais parecidos um com o outro. No ano de 1995, quando eu era ainda récem-casado, eu vi num curso do “Casados Para Sempre”, ministrado pelo Jessé e Sueli Oliveira (hoje presidentes nacionais do MMI – Marriage Ministries Internacional), uma ilustração interessante: um triângulo que tinha na ponta de cima palavra “Deus” e nas duas de baixo as palavras “marido” e “esposa”. Nesta ilustração eles nos mostraram que quanto mais o marido e a esposa subiam em direção a Deus, mais próximos ficavam um do outro. Nunca mais eu a Kelly esquecemos este exemplo.
Quero falar de apenas três (entre muitos) valores que encontramos na pessoa de Deus e que deveríamos reproduzir em nossas vidas. Certamente muitos casamentos podem ser salvos somente por praticar estes princípios: amar, ceder e perdoar.
Amar
Se Deus será parte de nosso casamento como modelo e referência, então temos que aprender a andar em amor, uma vez que as Escrituras nos revelam que Deus é amor (1 Jo 4.8). A revelação bíblica de que Deus é amor não foi dada apenas para que saibamos quem Deus é, mas para que nos tornemos imitadores d’Ele:
“Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados; e andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave.” (Efésios 5.1,2)
Há diferentes palavras usadas no original grego (língua em que foram escritos os manuscritos do Novo Testamento) para amor: “eros” (que retrata o amor de expressão física, sexual), “storge” (que fala de amor familiar), “fileo” (que aponta para o amor de irmão e/ou amigo), e “ágape” (que enfoca o amor sacrificial). Quando a Bíblia fala do amor de Deus, usa a palavra “ágape”; este é o amor que devemos manifestar! Ao escrever aos coríntios, o apóstolo Paulo ensina como é a expressão deste amor:
“O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” (1 Coríntios 13.4-7)
Se imitarmos a Deus e manifestarmos este tipo de amor, as coisas certamente serão bem diferentes em nosso matrimônio!
Ceder
A grande maioria das brigas e discussões gira em torno de quem está certo, de quem tem a razão. Muitas vezes, não vale à pena ter a razão; há momentos em que a melhor coisa é ceder, quer isto seja agradável, quer não! Observe o que Jesus Cristo nos ensinou a fazer:
“Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra; e, ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa. Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas. Dá a quem te pede e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes.” (Mateus 5.39-41)
Se seguirmos a Deus, como nosso modelo e referencial, e aos seus princípios, o casamento tem tudo para funcionar. O matrimônio não é um desafio por causa da pessoa com quem convivemos, e sim porque este convívio suscita nossa carnalidade e egoísmo e mostra quem nós somos! A dificuldade não está no cônjuge e sim em nossa inaptidão em ceder. Se amadurecermos nesta área, nossa vida conjugal definitivamente colherá os frutos.
Perdoar
Se imitarmos nosso modelo e referencial, que é Deus, e perdoarmos como Ele perdoa – como um ato de misericórdia e não de merecimento, incondicional e sacrificialmente – levaremos nosso relacionamento a um profundo nível de cura, restauração e intervenção divina. A instrução bíblica é muito clara em relação a isto:
“Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou.” (Efésios 4.32)
Concluindo, sem Deus (presente, intervindo e como nosso referencial) no casamento será impossível viver a plenitude do propósito divino para o matrimônio. Mesmo um casal que nunca se divorcie, viverá toda sua vida conjugal aquém do plano de Deus; por melhor que pareça sua relação matrimonial aos olhos humanos, ainda estará distante do que poderia e deveria viver.
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Autor: Luciano P. Subirá. É o responsável pelo Orvalho.Com – um ministério de ensino bíblico ao Corpo de Cristo. Também é pastor da Comunidade Alcance em Curitiba/PR. Casado com Kelly, é pai de dois filhos: Israel e Lissa.



Superando a Natureza Caída! – por Luciano R. Meier


“Então, Jesus lhes disse: Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei?…” (Marcos 9.19)
Essas palavras fazem parte da narrativa em que Jesus libertou um rapaz endemoninhado diante do apelo do pai. Justamente aquele rapaz que alguns dos seus discípulos não conseguiram libertar. Isoladamente, essa declaração parece uma repreensão um tanto quanto dura, mas quando analisamos o contexto todo podemos perceber que há uma mensagem muito mais profunda contida nela. Essa mensagem dificilmente seria percebida em uma leitura mais superficial, pois o que se consegue ver em meio a superficialidade é apenas um forte e acusador desabafo de Jesus.
Diante disso quero chamar sua atenção aos versículos quatorze, quinze e dezesseis, do mesmo capítulo nove, do evangelho de Marcos:
“Quando eles se aproximaram dos discípulos, viram numerosa multidão ao redor e que os escribas discutiam com eles. E logo toda a multidão, ao ver Jesus, tomada de surpresa, correu para ele e o saudava. Então, ele interpelou os escribas: Que é que discutíeis com eles?” (Marcos 9.14-16).
Perceba que o mesmo Jesus que repreendeu tão duramente seus discípulos, alguns momentos antes os defendeu da sagacidade dos escribas. Sofreria Jesus de distúrbio bipolar? Seria ELE esquizofrênico? Defende, ataca, ataca, defende? Não! Para entendermos melhor, deixe-me apontar dois detalhes que apresentam claramente a postura de correção, e não de ataque do Senhor Jesus ao declarar: “Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei?…”.
Primeiro, as Escrituras são claras quando afirmam que os escribas discutiam com aqueles discípulos de Jesus, os nove, que não conseguiram libertar o menino. Essa palavra no original grego, segundo o Léxico de Strong, expressa a idéia de uma disputa através de questionamentos, através de perguntas. A Bíblia de Estudo Plenitude traz uma nota bastante elucidadora que esclarece bem o versículo quatorze: “Os escribas estavam aparentemente tirando vantagem da falha dos discípulos para libertar o garoto endemoninhado.”. Segundo, note que essa disputa, essa postura de tirar vantagem do ocorrido, se deu entre uma numerosa multidão, ou seja, os religiosos queriam gerar descrédito, queriam desacreditar aqueles homens, queriam desacreditar o movimento liderado por Jesus expondo seus mais próximos seguidores.
É justamente, em meio a essa situação, que Jesus se impôs: “Então, ele interpelou os escribas: Que é que discutíeis com eles?”. A maioria das versões bíblicas brasileiras utiliza a palavra perguntou, já a versão Revista e Atualizada (RA), acertadamente usou uma outra palavra, que apesar de não ser muito comum ao nosso português coloquial, o português do dia-a-dia, expressa uma ênfase maior, do que apenas perguntou. Essa palavra traduzida para o português como interpelou, no original grego, está procurando exprimir uma abordagem bastante incisiva de alguém que tem uma indagação, uma pergunta, é a postura de alguém que exige uma resposta para sua pergunta. Foi essa a atitude de Jesus ao fazer esse questionamento.
Fica muito evidente o ato protetor de Jesus naquele momento. Jesus não apenas defendeu sua missão, mas principalmente, defendeu seus companheiros, aqueles que dariam continuidade a sua obra. ELE queria que todos soubessem, escribas e a multidão, que aqueles nove homens faziam parte dos seus doze homens valorosos e tinham o seu aval.
Agora, como o Jesus que protegeu seus discípulos tão prontamente, momentos depois os repreende tão duramente?
“Então, Jesus lhes disse: Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei?…” (Marcos 9.19).
Entenderemos melhor quando considerarmos as palavras usadas por Jesus. Marcos faz menção apenas da expressão incrédula, mas Mateus e Lucas, ainda complementam com a palavra perversa, ou seja, Jesus os chamou de geração incrédula e perversa.
Seja sincero(a), qual a figura que surge em sua mente ao ouvir estas duas expressões: incrédula e perversa? Quase que instantaneamente nos vem à ideia alguém que não crê e que pratica o mal conscientemente, por puro prazer. Devido a isso a aparente controvérsia de Jesus, ora defende, ora ataca. Acontece que o significado primário dessas expressões é justamente uma referência a pessoas presas a comportamentos de uma natureza caída. A palavra incrédula significa: “pessoa infiel, que não se pode confiar”. E o significado de perversa: “pessoa que se desvia, se desencaminha”, ou seja, sai do caminho.
O quadro todo recebe uma nova luz, surge um novo entendimento: Jesus não estava apontando o dedo e repreendendo seus discípulos por não terem libertado o menino. Ele estava sinalizando o motivo pelo qual isso aconteceu: a infidelidade deles a ponto de levá-los a desviar-se dos ensinos e do estilo de vida por Ele proposto. É mais ou menos como se Jesus estivesse dizendo: “Quando vocês estão comigo operam libertações, mas sozinhos, logo se desviam por que são infiéis.”. É justamente aqui, que tudo começa a fazer sentido: o que levou aqueles homens a terem sido infiéis, o que os levou a desviar dos caminhos estabelecidos pelo Mestre, o que os fez, em meio a certa distância de Jesus, não permanecerem a altura da vocação que haviam recebido? A resposta é bem clara, objetiva e simples: a natureza caída, o poder dominador da natureza caída.
Quero explicar melhor isso compartilhando uma experiência marcante que tive há algum tempo. Eu estava caminhando do centro da cidade rumo ao meu lar, quando comecei a questionar meu próprio comportamento. Eram dias onde uma constância de segurança estava sendo ameaçada por alguns imprevistos. Então eu dizia para mim mesmo: “Como pode, é só eu passar por um momento de prova, e estou aqui, cabisbaixo, emburrado, reclamando com Deus. Como uma criança que fica emburrada quando houve um não do pai e da mãe. Justamente eu, que tenho pregado tanto sobre firmar-se em Deus independente das circunstâncias.”. E queridos, eu estava nessa conversa comigo mesmo, me questionando, quando de repente, e, eu amo esse “de repente”, o Espírito Santo me falou.
Quero abrir um parêntese aqui. Muitas vezes quando falamos que o Espírito Santo nos falou estamos nos referindo algum acontecimento em específico que nos levou a entender isso. Mas quero enfatizar que quando eu estava tendo essa conversa comigo mesmo, ele realmente falou, só faltou eu ouvir com os ouvidos naturais, foi de repente, ELE surpreendentemente disse: “Comportamentos de uma natureza caída!”. Nossa! Uau! Foi tão impactante que eu nem parei para pensar nessa frase, peguei logo meu celular e andando mesmo, a digitei. Depois comecei a meditar buscando uma maior revelação: “Comportamentos de uma natureza caída!”.
Agora pense comigo, poucos de nós foram ensinados nos caminhos do Senhor desde a infância. Calcule quantos anos você foi refém da sua própria natureza caída, influenciada pelo mundo e pelo próprio diabo. Agora pense em termos de meses, semanas, dias, horas… Eis aí uma das evidentes razões para Jesus ter escolhido um grupo para estar vinte e quatro horas com Ele. Eles foram chamados a uma desintoxicação, foram chamados a purificação, chamados a uma real transformação. Estar com ELE, para se parecer mais e mais com ELE. Jesus os chamou para que eles experimentassem uma mudança de pensamento e comportamento, Jesus os chamou para que não estivessem mais sujeitos a própria natureza caída.
É extremamente necessário reconhecer que ainda somos afetados por nossa natureza caída. Infelizmente, ela ainda exerce um domínio muito grande sobre nós. Mas a questão é: como superar isso? Como vencê-la a ponto de não mais fazer parte de uma geração incrédula e perversa? É simples, mas ao mesmo tempo, um grande desafio! É preciso parar e considerar o desejo de Jesus em fazer fluir sua vida em nós. Isso, ELE faz através de um relacionamento fundamentado na proximidade, na intimidade, na constância em se estar junto a ELE.
Atente para as palavras do evangelista Marcos:
“Então, designou doze para estarem com ele e para os enviar a pregar” (Marcos 3.14).
O primeiro interesse de Jesus, segundo Marcos, fica bem claro: “…para estarem com ele…”. Acompanhe essa declaração na Nova Tradução da Linguagem de Hoje:
“Então escolheu doze homens para ficarem com ele e serem enviados para anunciar o evangelho. A esses doze ele chamou de apóstolos.” (Marcos 3.14 NTLH)
Você consegue perceber a ênfase? Que tal na paráfrase conhecida como Bíblia Viva:
“Então Ele selecionou doze deles para serem seus companheiros constantes e saírem para pregar e expulsar demônios.” (Marcos 1.14-15 BV)
Faço minhas as palavras da nota da Bíblia de Estudo NVI: “… O treinamento dos doze consistia não somente em instruções e prática nas várias formas do ministério, mas também em convívio contínuo com o próprio Jesus e comunhão íntima com ele.”.
Essa é a forma, a maneira, o modo, o jeito, de superar a natureza caída. É assim, e só assim, que experimentaremos a liberdade: estando com Jesus, ficando com Jesus, convivendo com Jesus!
Isso se torna mais evidente quando entendemos a ideia por trás da palavra que foi traduzida para o português como designou:“Tornar alguém alguma coisa”. Ou ainda: “Produzir, tornar pronto, fazer algo a partir de alguma coisa, fazer alguém”.
Lembre-se a forte indagação de Jesus: “Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei?…”. Foi feita aqueles que não subiram o monte com ELE, aqueles que por um tempo ficaram afastados d’ELE, foi feita aqueles que deixaram-se dominar pela velha e persistente natureza caída.
Quando falo sobre isso: “SUPERANDO A NATUREZA CAÍDA”, gosto de ilustrar contando parte do testemunho do conhecidíssimo ministro da música, o adorador Asaph Borba. Tive o privilégio de ouvi-lo pregando quando ele contou isto. Ele falava sobre a forma profundamente caída em que ele se encontrava quando entregou sua vida para o Senhor Jesus. O nível de imoralidade e iniquidade que ele havia experimentado era profundo, segundo ele. Seu comportamento era totalmente dominado por sua natureza caída. Ele revelou que passava horas e horas, trancado no quarto aprofundando-se no pecado através da pornografia, isso antes de reconhecer Jesus como Senhor e Salvador de sua vida. A partir dessa entrega, dessa aliança estabelecida com Jesus, ele buscou libertar-se e limpar-se, não sendo mais escravo da sua natureza caída. E o que ele fez? Ele decidiu resolutamente trancar-se no quarto para, agora, experimentar não só a libertação, mas a purificação. Isso mesmo, a libertação e a purificação! Ele falou sobre as horas e horas que passou trancado no quarto com seu violão, cantando para Jesus, adorando a Jesus, estando com Jesus, ficando com Jesus. Assim foi possível experimentar a plena liberdade e pureza. Foi dessa forma que ele superou a natureza caída que o dominava.
É preciso que isso fique claro, quando Jesus chamou aqueles homens de incrédulos e perversos, ELE estava apontando para o domínio que natureza caída ainda tinha sobre eles. Essa compreensão se torna mais lúcida ainda ao percebermos como Jesus faz questão de defini-los: “Ó geração…”. No original grego, de acordo com o Léxico de Strong, essa palavra expressa a seguinte idéia: os membros sucessivos de uma genealogia. Queridos, qual era o “pedigree” espiritual daqueles homens, de qual árvore genealógica espiritual eles vinham, qual o DNA da espiritualidade deles? A religiosidade estéril! Seus antepassados conheciam muito bem a religião e eram reféns de sua esterilidade. Por isso Jesus os chamou a um relacionamento, para que eles pudessem experimentar a liberdade dessa natureza caída que apesar da religião, continuava geração após geração dominando e escravizando o ser humano.
Muitos não entendem que fazer parte de uma religião, inclusive a chamada evangélica, não possibilita essa experiência de superação da natureza caída. A maioria das religiões tem o seu valor sociológico, a maioria das religiões estabelece um padrão comportamental moral e ético elogiável, a maioria das religiões promove o bem coletivo, mas nenhuma religião proporcionará liberdade da natureza caída. Esse papel é exclusivo de Jesus.
“Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (João 8. 31-32).
O domínio da natureza caída é tão real sobre o homem, que mesmo ele vivendo a realidade religiosa, ou até mesmo depois de dizer sim ao chamado de seguir Jesus, ele enfrentará seus ataques. Alguns pensam que Jesus quer reerguer a natureza caída do homem, não! Jesus é a Pedra Angular que veio para esmiuçar, para esmigalhar essa natureza caída. Eis a razão do chamado de Jesus ser primeiramente, em ordem e valor, para estar com ELE, conviver com ELE, antes de trabalhar para ELE: o processo de reduzir a natureza caída ao pó, a absolutamente nada.
Agora preste atenção, da mesma forma que se engana quem pensa que Jesus irá reerguer a natureza caída do homem, se engana quem pensa que esse processo de transformação é simples e rápido. Se você continuar lendo o contexto perceberá que os homens que ouviram da boca de Jesus: “Ó geração incrédula e perversa. Até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei?”, os nove que não conseguiram libertar o rapaz endemoninhado, juntamente com os três que subiram ao monte, momentos depois estavam discutindo sobre quem seria o maior deles:
“Tendo eles partido para Cafarnaum, estando ele em casa, interrogou os discípulos: De que é que discorríeis pelo caminho? Mas eles guardaram silêncio; porque, pelo caminho, haviam discutido entre si sobre quem era o maior.” (Marcos 9.33-34).
A natureza caída só é superada num processo de relacionamento com Jesus, um relacionamento constante, diário, genuíno: “Então, designou doze para estarem com ele…”. É assim, é só assim, que a Pedra Angular tornará pó à natureza caída!
A declaração do Espírito Santo: “Comportamentos da natureza caída!”, é um chamado a superação, é um chamado para estar, ficar, conviver, ser íntimo de Jesus. É um chamado para todo aquele que mesmo entendendo e experimentando a imensurável graça e misericórdia, o imensurável amor e perdão do Senhor Jesus, ainda assim em determinados momentos pode ouvi-Lo: “Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei?…”.
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Sobre o autor: Luciano R. Meier é casado com Cláudia e pastor da Comunidade Cristã Discípulos em Jaraguá do Sul/SC
Fonte: http://www.orvalho.com


Saltando pelos Montes – por Thomas Wilkins

“Vem depressa, amado meu, faze-te semelhante ao gamo ou ao filho da gazela, que saltam sobre os montes aromáticos”.  (Cantares 8.14)
Montes na Bíblia nos falam de poder e autoridade, mas também nos fazem lembrar de experiências e situações tanto negativas quanto positivas. Todos nós temos passado pelos vales e pelos montes da vida, assim como pelos desertos e jardins. Todas as experiências que passamos tem um propósito só – fazer-nos crescer e levar-nos à imagem do Filho de Deus.
“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”.  (Romanos 8.28,29)
Muitas vezes lembramos mais facilmente dos montes de provações do que dos de bênçãos. Sentimos como Davi quando fugia de Saul e encontrou-se cercado por montes. Não havia outra saída senão aquela por onde ele e seus homens entraram. E, agora, Saul e seu exercito estava entrando atrás deles. Havia uma rocha no meio por onde eles podiam correr e se esconder, mas faltava pouco para serem presos por Saul. Neste instante Davi pôde dizer:“Levantarei meus olhos para os montes (que me cercam), de onde me virá o socorro?” Ainda bem que ele pôde levantar os olhos mais para o alto e ver Alguém maior que as montanhas da vida e, então, disse, “o meu socorro vem do Senhor que fez os céus e a terra!” (Salmo 121.1,2). Quantas vezes nos deparamos com montes de provas, problemas e crises!
Por outro lado há também os montes abençoados e aromáticos que deixam uma doce lembrança de momentos de livramento, suprimento, avivamento e crescimento espiritual. Às vezes descobrimos estes montes logo após um longo vale difícil! Ou, às vezes quando cercado pelas ameaças do inimigo, surge à nossa frente o monte de salvação, e podemos dizer como o profeta Miquéias:
“Mas, nos últimos dias, acontecerá que o monte da Casa do Senhor será estabelecido no cimo dos montes e se elevará sobre os outeiros, e para ele afluirão os povos. Irão muitas nações e dirão: Vinde, e subamos ao monte do Senhor e à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos pelas suas veredas; porque de Sião procederá a lei, e a palavra do Senhor, de Jerusalém. Ele julgará entre muitos povos e corrigirá nações poderosas e longínquas; estes converterão as suas espadas em relhas de arados e suas lanças, em podadeiras; uma nação não levantará a espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerra. Mas assentar-se-á cada um debaixo da sua videira e debaixo da sua figueira, e não haverá quem os espante, porque a boca do Senhor dos Exércitos o disse”.  (Miquéias 4.1-4)
A Palavra de Deus nos mostra que a Igreja do Senhor deve ser como um monte alto, como Jesus disse:
“Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa. Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus”.  (Mateus 5.14-16).
MONTES NA BÍBLIA
Da mesma forma a verdadeira unidade e comunhão dos irmãos trazem a bênção da montanha alta sobre as congregações:
“Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos! É como o óleo precioso sobre a cabeça, o qual desce para a barba, a barba de Arão, e desce para a gola de suas vestes. É como o orvalho do Hermom, que desce sobre os montes de Sião. Ali, ordena o Senhor a sua bênção e a vida para sempre”.  (Salmo 133.1-3).
Quando dizemos que “todas as coisas cooperam para o bem…”, devemos lembrar que Deus pode transformar os montes mais íngremes e árduos em montes de bênçãos! Um vivido exemplo disso encontramos na vida de Calebe. Ele era um dos doze homens que Moises enviou para espiar a terra de Canaã. E agora depois que toda uma geração tombara no deserto devido à sua incredulidade, Calebe se apresentou a Josué, o General, e disse,
“… Tu sabes o que o Senhor falou a Moisés, homem de Deus, em Cades-Barnéia, a respeito de mim e de ti. Tinha eu quarenta anos quando Moisés, servo do Senhor, me enviou de Cades-Barnéia para espiar a terra; e eu lhe relatei como sentia no coração. Mas meus irmãos que subiram comigo desesperaram o povo; eu, porém, perseverei em seguir o Senhor, meu Deus. Então, Moisés, naquele dia, jurou, dizendo: Certamente, a terra em que puseste o pé será tua e de teus filhos, em herança perpetuamente, pois perseveraste em seguir o Senhor, meu Deus. Eis, agora, o Senhor me conservou em vida, como prometeu; quarenta e cinco anos há desde que o Senhor falou esta palavra a Moisés, andando Israel ainda no deserto; e, já agora, sou de oitenta e cinco anos. Estou forte ainda hoje como no dia em que Moisés me enviou; qual era a minha força naquele dia, tal ainda agora para o combate, tanto para sair a ele como para voltar. Agora, pois, dá-me este monte de que o Senhor falou naquele dia, pois, naquele dia, ouviste que lá estavam os anaquins e grandes e fortes cidades; o Senhor, porventura, será comigo, para os desapossar, como prometeu”.  (Josué 14.6-12)
O monte que Calebe queria se chamava Quiriate Arba, e quer dizer “Cidade do Gigante” ou “Herói de Baal”, porque nele moravam os gigantes descendentes de Arba. Mas, quando Calebe os confrontou e os venceu, ele tomou posse do monte e mudou o nome para Hebrom que significa “União”. Deus lhe deu forças e graça para vencer e mudar o monte de dificuldade em bênção!
Outro monte que complicava a vida do povo de Deus era Jebus. Quando todos os povos antigos de Canaã haviam sido derrotados por Israel, quedava-se um reduto do inimigo bem no coração da nova nação. Era um povo obstinado que não puderam desalojar. Estes eram os jebuseus que moravam em Jebus, um monte que até hoje está na grande Jerusalém. Contudo quando Davi foi coroado rei sobre todo Israel, a primeira coisa que ele empreendeu era remover os jebuseus e conquistar o Monte de Jebus, mudando seu nome para Sião, cidade de Davi! Para conquistá-la seus homens tiveram que subir pela entrada das águas. É só assim que se vence estes redutos em nosso coração – pelo rio de Deus – o poder do Seu Espírito Santo!
Outro monte que desafiava a fé era o Monte Moriá – que significa, “Escolhido por Deus”. Deus falou com Abraão que levasse seu filho, seu único filho, Isaque e o sacrificasse sobre o Monte Moriá. Levaram três dias de jornada para chegar até lá. E, quando chegaram Abraão disse aos servos, “ficai aqui, até que eu e o menino adoremos e voltemos!” E conhecemos a história como, ao chegar no topo, Isaque disse a seu pai, “Pai, aqui está a lenha e o fogo, mas onde está o sacrifício?” Abraão respondeu, “O Senhor proverá!” E quando prestes a imolar o filho, Abraão ouviu um brado angelical do céu, dizendo que Deus havia visto a sua fé e obediência e que havia provido um substituto. Olhando para o lado viu um carneiro preso numa moita e o ofereceu no lugar de seu filho. Abrão mudou Moriá em Jeová Jiré, “No monte do Senhor se proverá!” É nos montes que parecem mais difíceis que descobrimos o suprimento do Senhor!
Outro exemplo isso temos no Monte Sinai (ou Horebe) que para o povo de Israel parecia o mais assustador e tenebroso. Enquanto acampavam ao pé do monte, ouviam trovões, viam relâmpagos e sentiram o chão a estremecer. No entanto, do meio da fumaça que cobria o monte, Deus chamou Moises e um grupo representativo dos anciãos de Israel para subir ao monte. Lá no monte, eles sentaram, comeram e viram a glória do Senhor! Os nossos montes de medo podem se transformar em doce comunhão!
Outros montes bíblicos incluiriam o Abarim, que, na verdade, era uma região montanhosa no caminho de Canaã. Era do alto de um destes picos, o Monte Pisga, que Moises vislumbrou a terra prometida. Abarim significa “passagem”, e devemos lembrar que através dos montes não apenas avistaremos a terra prometida, mas também chegaremos lá!
O Monte Ebal era o monte das maldições, mas, logo ao lado estava o monte Gerizim, o monte das bênçãos. Deus quer que vejamos toda a topografia e não apenas o lado negativo das coisas. Em grande parte do norte de Israel se podia ver num dia claro o Monte Hermom, majestoso, sempre coberto de neve. E, em qualquer lugar da nossa peregrinação terrestre por mais árida que seja a nossa experiência, podemos divisar com nosso majestoso Rei que nos traz refrigério. Assim como era visível de longe o monte Tabor, provavelmente o chamado Monte da Transfiguração. Vamos nos encher de alento. Vamos subir ao Monte do Senhor. Vamos contemplar a glória do nosso Rei!
MONTES NAS NOSSAS VIDAS
A topografia de nossas circunstancias pode prover toda uma variedade de montes até cordilheiras, tão negativos como “doenças”, “decepções”, “perdas”, “medo”, “quebra de relacionamentos”, etc. Mas, também pode haver muitos montes de bênção tais como, “cura”, “salvação”, “batismo no Espírito Santo”, “chamado de Deus”, “restauração da família”, etc. Assim como, Jesus pode andar sobre as águas agitadas, Ele também pode vir saltando sobre todos estes montes da nossa vida, os ruins e os bons. E, assim como Pedro disse, “Se és tu, chama-me para que eu vá contigo andando sobre as águas”, nós podemos dizer, “chama-me Senhor para que contigo eu salte sobre todos estes montes da minha vida”! Assim como Jesus disse a Pedro, “Vem!”, Ele nos convida, “Vem, e saltem comigo sobre os montes!”
“Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações.Portanto, não temeremos ainda que a terra se transtorne e os montes se abalem no seio dos mares; ainda que as águas tumultuem e espumejem e na sua fúria os montes se estremeçam. Há um rio, cujas correntes alegram a cidade de Deus, o santuário das moradas do Altíssimo. Deus está no meio dela; jamais será abalada; Deus a ajudará desde antemanhã”.  (Salmo 46.1-5)
Além de terremotos e maremotos, há ainda outra força maior que pode sacudir os montes – a fé! Jesus disse que, se tivermos fé, podemos dizer a este monte, “Ergue-te e lança-te no mar (onde cabe), tal sucederá…!” (Mc 11.23) Em Zacarias 4.7, diz que o monte será removido pelo Espírito do Senhor e por aclamações de “graça, graça”!
Temos muitas promessas que Deus nos capacitará a pisarmos os montes da vida: “Todo monte será nivelado…”, (Is 40.4); “Eis que vos dou poder para pisar serpentes, e escorpiões, e toda a força do Inimigo, e nada vos fará dano algum”(Lc 10.19); “O Deus de paz esmagará em breve Satanás debaixo dos vossos pés. A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja convosco. Amém!” (Rm 16.20). Até os montes hereditários não resistem, “… as coisas velhas passaram…!” (2 Co 5.17).
Os montes virão – “… No mundo tereis aflições (montes), mas tende bom ânimo, eu venci o mundo!” (João 16.33b). Sim, eles virão, mas sempre serão menor que o nosso Deus! Lembro-me de um acontecimento de muitos anos atrás. Eu estava pela primeira vez num avião, tendo a minha primeira experiência de voar. Lembro-me bem, porque foi depois que Deus me curou de uma terrível hepatite! Lá em cima com meu amigo, o piloto, rumávamos em direção a uma cidade no deserto no sul da Califórnia. Passamos por cima do Mojave e à nossa frente se levantava uma serra chamada “Chocolate Mountains” (“Montanhas de Chocolate”). Eram muito mais altas que nosso vôo, mas meu amigo simplesmente puxou uma alavanca (o avião era um “Tailorcraft” muito antigo). Logo só via apenas o céu e, depois de alguns minutos, ele voltou o avião ao horizontal e me disse, “Aqui você tem que alterar o Salmo 121 e dizer, ‘abaixarei os meus olhos para os montes…’”! Quando olhei, as montanhas já estavam abaixo de nós!
Foi sobre um monte que Jesus foi crucificado. E quando estamos unidos com Ele na sua morte e ressurreição é que surge a verdadeira fé. Deus também nos deu a cada um de nós uma alavanca. Ela se chama a fé, e é só com ela que sempre “saltamos sobre os montes!”
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Thomas Wilkins é um dos pastores da Igreja das Nações, em Joinville/SC. É casado com Lisa e tem 5 filhos, todos servindo ao Senhor (juntamente com os netos). Norte-americano, chegou ao Brasil no final da década de 60, enviado como missionário. No início de seu ministério ajudou na implantação de várias igrejas no Norte do Paraná. Fez parte do presbitério da Comunidade Cristã de Curitiba por muitos anos e atualmente trabalha no desenvolvimento do MFI-Brasil (Comunhão Internacional de Ministros).
Fonte:www.orvalho.com



Dívida de Gratidão – por Luciano Subirá

Em 1993 eu vivi uma experiência marcante em Itajaí, no Estado de Santa Catarina. Eu estava na praia com um grupo de irmãos, depois de pregar num encontro de igrejas, e eu ouvi alguém gritando por ajuda. O pedido de socorro vinha de um lugar de onde havíamos acabado de sair, por conselho de um morador local que nos acompanhava. Ele nos orientou que, com a maré do jeito que estava (com a praia estando inclusive sinalizada com bandeiras vermelhas indicando o perigo), em pouco tempo teríamos dificuldades para sairmos de lá. Portanto, prontamente o ouvimos e fomos a um local mais raso e mais seguro. Ao ouvir os gritos do rapaz que estava em apuros, nadei em sua direção, para ajudá-lo a sair da água, enquanto os outros irmãos foram chamar os salva-vidas. Com muito esforço eu consegui trazê-lo até a metade do caminho. Foi o suficiente para que os bombeiros tivessem o tempo de entrarem na água e tirarem a ele e a mim, pois eu também já me encontrava completamente exausto!
Lembro-me que, ao sair do mar e conseguir chegar até a praia, eu tive que me deitar para recobrar o fôlego e as forças. Enquanto eu ainda estava deitado na areia, os amigos daquele rapaz que eu ajudei a salvar o trouxeram carregado (ele também não tinha forças para andar) e o colocaram na minha frente, dizendo: “Agradece à pessoa que te salvou!”
Eles ficaram tão tocados com o fato de termos salvado o seu amigo que não aceitavam a idéia de que ele não havia agradecido ainda, mesmo que ele, assim como eu, mal conseguisse colocar-se em pé! O que aconteceu nesta ocasião é o tipo de coisa que eu denomino “dívida de gratidão”. Assim sendo, aproveitei para pedir-lhe algo em sinal de gratidão a Deus (que foi de fato quem poupou a vida dele): que ele fosse a uma igreja evangélica e entregasse o seu coração ao Senhor Jesus Cristo!
A maioria de nós carrega no coração um sentimento especial por pessoas que nos ajudaram em momentos de necessidade ou que serviram de apoio e suporte em horas difíceis. Recordar o que fizeram por nós dispõe o nosso coração a desejar retribuir e fazer algo em troca.
Quando falamos de amor ao Senhor na dimensão que Ele quer é natural o desejo de crescermos e amadurecermos neste amor. Assim que eu comecei a entender a importância desta manifestação mais intensa de amor, eu também comecei a procurar meios de fazer com que o meu amor aumentasse.
Jesus nos falou sobre o que leva as pessoas a amarem mais, ou menos, e fez uma relação disso com a compreensão do Seu perdão estendido a cada um de nós. Assim sendo, eu afirmo que a compreensão da dimensão do que o Senhor fez por nós nos leva a uma manifestação maior de amor para com Ele. Por outro lado, uma compreensão limitada do que Ele fez por nós nos prende a uma manifestação igualmente limitada de amor e gratidão. Foi neste contexto que Deus fez com que eu compreendesse o texto a seguir, como também o poderoso princípio nele embutido: a dívida de gratidão!
“E eis que uma mulher da cidade, pecadora, sabendo que ele estava à mesa na casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com unguento; e, estando por detrás, aos seus pés, chorando, regava-os com suas lágrimas e os enxugava com os próprios cabelos; e beijava-lhe os pés e os ungia com o unguento. Ao ver isto, o fariseu que o convidara disse consigo mesmo: Se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, porque é pecadora. Dirigiu-se Jesus ao fariseu e lhe disse: Simão, uma coisa tenho a dizer-te. Ele respondeu: Dize-a, Mestre. Certo credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentos denários, e o outro, cinquenta. Não tendo nenhum dos dois com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Qual deles, portanto, o amará mais? Respondeu-lhe Simão: Suponho que aquele a quem mais perdoou. Replicou-lhe: Julgaste bem. E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés; esta, porém, regou os meus pés com lágrimas e os enxugou com os seus cabelos. Não me deste ósculo; ela, entretanto, desde que entrei não cessa de me beijar os pés. Não me ungiste a cabeça com óleo, mas esta, com bálsamo, ungiu os meus pés. Por isso, te digo: perdoados lhe são os seus muitos pecados, porque ela muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama. Então, disse à mulher: Perdoados são os teus pecados. Os que estavam com ele à mesa começaram a dizer entre si: Quem é este que até perdoa pecados? Mas Jesus disse à mulher: A tua fé te salvou; vai-te em paz.” (Lucas 7.37-50)
CONTRASTES
Temos nesta história duas personagens bem distintas. De um lado, representando a dedicação à religião, temos um fariseu, um membro da mais rígida casta religiosa dos judeus. Do outro lado, como expressão da distância de Deus aos olhos dos homens, temos uma mulher chamada de “pecadora”, provavelmente uma prostituta. Os contrastes não param aí. Simão era o dono da casa, o anfitrião da festa, e tinha todo direito de estar lá. A mulher, no entanto, causou indignação nos presentes por causa do que era, e certamente apareceu por lá sem ter sido convidada. Simão agiu da forma mais polida e discreta possível, mas aquela mulher pecadora foi um escândalo diante das pessoas presentes.
Aos olhos daquelas pessoas, a grande diferença entre ambos era definida pelo pecado que se via (ou não) em suas vidas. Resumindo-se, as diferenças eram definidas pela aparência. Aos olhos de Jesus, os contrastes continuavam, mas, pela Sua explicação, percebemos que os papéis de “herói” e “vilão” se invertiam. O Senhor disse que esperava ter recebido um ósculo de Simão, mas ele não fez isto. Esta prática era um sinal de respeito, e Simão o negligenciou. Não sabemos a razão, mas ele não fez o que Jesus esperava. Contudo, a mulher desconhecida não cessava de beijar os Seus pés. Simão não lavou os pés de Jesus e nem mandou que um dos seus servos o fizesse, mas a pecadora os regou com lágrimas e os enxugou com os seus cabelos. Simão não ungiu a Jesus com óleo, mas a mulher usou um perfume caríssimo para executar tal tarefa. Simão não se via como um pecador necessitado da graça e do perdão de Deus, mas a mulher sim!
Aos olhos de Jesus, a grande diferença entre ambos era definida pelo amor e gratidão que se via (no caso da mulher) ou não (no caso do fariseu) em suas vidas. E a diferença vista por Jesus – que não se baseava na aparência – anulava completamente a diferença percebida pelos homens, uma vez que as acusações de pecado que poderiam fazer contra aquela mulher foram completamente removidas pelo perdão de Deus que foi estendido a ela.
A QUEM MUITO SE PERDOA
É natural, como já afirmamos, esperar-se que uma pessoa se sinta em dívida com uma outra que lhe ofereceu uma grande ajuda. Todos nós sabemos o que é isto, de uma maneira ou de outra. Como pastor, eu sigo a ética pastoral convencional de nunca ser fiador de ninguém, pois a reputação do ministério pode ser facilmente destruída pelo erro de alguém que possa usar o meu nome indevidamente, sem que eu possa fazer nada a respeito. No entanto, recordo-me de uma vez em que avalizei um irmão em Cristo muito querido para mim. O valor era muito alto para a minha condição financeira, e, se ele tivesse problemas com o pagamento da sua dívida, eu poderia até mesmo perder a minha casa. Ainda assim, eu e a minha esposa fizemos por ele o que não faríamos por quase ninguém, por uma única razão: dívida de gratidão! Todas as vezes que eu precisei de um aval ou de qualquer tipo de ajuda, ele era o primeiro a oferecer-se. Ele sempre se importou comigo e foi uma grande bênção para mim. Assim sendo, com a anuência da minha esposa, tomei a decisão de avalizá-lo, mesmo que isto pudesse nos custar a casa que possuíamos!
A maioria de nós sabemos, por experiência própria, o que é sermos ajudados pelas pessoas a ponto de carregarmos no coração uma grande gratidão pelo que recebemos delas. Este princípio é algo natural, que se manifesta na vida de qualquer um que tenha consciência, quer seja um crente ou um incrédulo. E o Senhor Jesus o aplicou a nós. Ele disse que quando entendemos o Seu perdão e a dimensão dos pecados que Ele removeu das nossas vidas, ficamos naturalmente gratos e O amamos mais. Ele falou sobre dois devedores, com dívidas distintas e que foram perdoados. No entanto, um deles devia dez vezes mais do que o outro, e ficou mais agradecido. E, em Seu ensino, Jesus revela que a gratidão não está ligada meramente ao perdão da dívida, e sim à consciência da dimensão (do tamanho) do perdão. Isto fica muito claro em Sua afirmação àquela mulher: “Por isso, te digo: perdoados lhe são os seus muitos pecados, porque ela muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama.”
REMOVENDO O ENGANO
Hoje, este trecho das Escrituras abençoa muito o meu coração e faz com que eu cresça na expressão do meu amor a Deus, mas nem sempre foi assim! Este mesmo texto já trouxe muitas dúvidas e conflitos ao meu coração!
Eu tive o grande privilégio de nascer num lar genuinamente cristão. O meu primeiro presente foi uma Bíblia. Desde cedo fui ensinado, tanto em casa como na igreja, a seguir os princípios da Palavra, e eu decidi seguí-los. Não cresci me achando santo ou perfeito, mas me afastei de tudo o que, aos meus olhos, eu considerava ofensivo a Deus. Nunca fiquei embriagado ou drogado, nunca traí ninguém, nem em amizades ou namoro, nunca roubei, e sempre fugi da prostituição. Eu me considerava alguém separado para Deus, mas, cada vez que eu lia esta passagem bíblica, eu entrava num conflito interior.
Por muitas vezes o Diabo sugeriu que eu jamais entenderia o amor e o perdão de Deus sem pecar. Eu me flagrava pensando que eu nunca amaria ao Senhor como os “ex-malucos” que víamos se convertendo. De fato eu tenho visto muitos que saíram do mais profundo abismo de drogas, alcoolismo, prostituição, magia, e de tudo o que degrada o ser humano. Eles, como Jesus disse, carregam uma profunda consciência do perdão de Deus e caminham na consciência da dívida de gratidão que possuem para com Ele.
Contudo, o Maligno me levava a pensar que, semelhantemente a Simão, que foi criado segundo a verdade da Palavra de Deus e a seguiu, eu nunca valorizaria a obra de Cristo em minha vida! É evidente que, com tais pensamentos, Satanás não queria me ensinar a amar mais profundamente a Deus. Eu sabia que o que ele de fato queria era desviar-me do Senhor, e eu nunca lhe dei ouvidos, mas eu não conseguia ter o entendimento do ensino de Jesus. Enganado, passei a considerar que o que antes me parecia ser um privilégio poderia ser um impedimento para que eu pudesse verdadeiramente amar ao Senhor. Mais tarde, descobri que este dilema não era somente meu. Até hoje, quando ensino sobre isto, muitos crentes que nasceram e cresceram no Evangelho me confidenciam que tinham o mesmo questionamento.
Satanás tenta promover o engano por meio da distorção dos princípios bíblicos. Vemos isto claramente na tentação de Jesus no deserto. O Inimigo tentou distorcer a aplicação do Salmo 91, no que dizia respeito à proteção dos anjos. Eu lutei contra estas setas de engano no que diz respeito à afirmação de Jesus de que quem muito é perdoado muito ama. Eu sabia que a Palavra de Deus é perfeita e nunca erra. Eu sabia também que eu não poderia desviar-me. Assim sendo, comecei a achar que este princípio era um pouco injusto, pois, na limitação do meu entendimento, eu achava que eu estava sendo impedido de amar profundamente ao Senhor e que Ele havia privilegiado os rebeldes e desobedientes, ao invés dos que tentam honrá-Lo por meio da obediência! Um dia, finalmente, Deus me respondeu e removeu o engano que oprimia o meu coração!
O QUE JESUS QUIS DIZER COM “MUITOS PECADOS”?
Deus fez com que eu visse e compreendesse um princípio em Sua Palavra: Jesus reconheceu que aquela mulher havia sido perdoada dos seus “muitos pecados”, e isso me levava a crer que Cristo concordava com o fato de que ela era mais pecadora do que Simão, pois Ele mesmo falou sobre dois devedores com dívidas diferentes. Tiago, no entanto, mostrou-nos em sua epístola um princípio normalmente pouco entendido pelos crentes:
“Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos. Porquanto, aquele que disse: Não adulterarás também ordenou: Não matarás. Ora, se não adulteras, porém matas, vens a ser transgressor da lei.” (Tiago 2.10,11)
Quem tropeça num só ponto da Lei tropeça em todos. Aos olhos de Deus, todo tipo de pecado é pecado. Todos eles produzem separação entre nós e Deus (Is 59.1,2). É lógico que as consequências são diferentes, mas, para efeito de separação de Deus e necessidade de perdão, todos os pecados são iguais! Observe o que Cristo ensinou:
“Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela.” (Mateus 5.27,28)
O Senhor Jesus afirma que a cobiça dos olhos nos faz tão imorais quanto os que julgamos adúlteros. Contudo, não podemos pressupor que, se porventura tivermos pecado com os olhos, não haverá razão para interrompermos este processo antes de se tornar um adultério com envolvimento físico. Os dois “tipos” de adultério são pecado, mas as consequências de cada um são diferentes. Contudo, no que tange à contaminação do homem e à sua separação de Deus, os dois “tipos” de pecado produzem o mesmo efeito!
Ao escrever aos romanos, mostrando que não havia distinção entre judeus e gentios, Paulo declarou que, independentemente do quanto conheciam a Lei, todos se encontravam numa mesma condição:
“Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado; como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer.” (Romanos 3.9-12)
A Bíblia encerrou todos os homens, independentemente do que cada um tenha feito, sob a mesma condenação do pecado:
“Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos que vivem na lei o diz para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus, visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado.” (Romanos 3.19,20)
Eu creio que a razão pela qual Deus lidou com essas coisas dessa maneira é uma só, e Paulo fala sobre isso: “ a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus” (1 Co 1.29). Nenhum de nós pode orgulhar-se de nada. Ninguém pode discutir sobre quem é mais pecador ou sobre quem merece a atenção e a justificação de Deus. Jesus também ensinou o seguinte sobre isto:
“Propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um, fariseu, e o outro, publicano. O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho. O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado.” (Lucas 18.9-14)
Diante de tudo isto que Jesus declarou sobre o pecado, como também sobre a forma de os homens verem a si mesmos e à sua própria condição miserável diante de Deus, comecei a entender que Ele não poderia ter afirmado que Simão, o fariseu, era menos pecador do que aquela mulher. Na verdade, aparentemente Ele chegou a afirmar o contrário em outros momentos do Seu ensino:
“E que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Chegando-se ao primeiro, disse: Filho, vai hoje trabalhar na vinha. Ele respondeu: Sim, senhor; porém não foi. Dirigindo-se ao segundo, disse-lhe a mesma coisa. Mas este respondeu: Não quero; depois, arrependido, foi. Qual dos dois fez a vontade do pai? Disseram: O segundo. Declarou-lhes Jesus: Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem no reino de Deus. Porque João veio a vós outros no caminho da justiça, e não acreditastes nele; ao passo que publicanos e meretrizes creram. Vós, porém, mesmo vendo isto, não vos arrependestes, afinal, para acreditardes nele.” (Mateus 21.28-32)
Cristo ensinou sobre o mantermos as aparências e sobre a verdadeira obediência. Ele mostrou que, assim como para aquele pai não interessava o fato de a resposta inicial ser agradável ou não, e sim o que os filhos fizessem depois, assim também é no Reino de Deus. Alguns dizem “sim” depressa, mas tornam-se religiosos e posteriormente não demonstram uma obediência permanente, vindo a pecar com uma aparência de obediência. Outros, por outro lado, demoram a dizer “sim”. No início somente dizem “não” e se rebelam, mas depois demonstram que possuem a capacidade de se arrependerem e mudarem o seu posicionamento no sentido de obedecerem ao pai.
A declaração de Jesus foi muito forte! Ele disse que publicanos e prostitutas entrariam antes dos fariseus no Reino de Deus. Este contraste também é aplicável no caso de Simão e da mulher pecadora. Portanto, concluímos que o Senhor Jesus não estava comparando a “ficha corrida” de cada um, nem Se referindo ao volume de pecados que cada um tinha aos olhos de Deus. A chave do entendimento deste texto é sabermos que, ao falar de dívida maior e menor, de muitos e poucos pecados, Cristo está, na verdade, falando da forma como cada um vê a si mesmo, da capacidade de enxergarmos muito ou pouco dos nossos próprios pecados!
E esta não foi a única vez que Jesus agiu assim ao falar sobre o pecado e a nossa necessidade de Deus. Outra afirmação de Cristo confirma a diferença que há, especialmente neste contexto dos diferentes pecados dos fariseus e dos publicanos:
“Os fariseus e seus escribas murmuravam contra os discípulos de Jesus, perguntando: Por que comeis e bebeis com os publicanos e pecadores? Respondeu-lhes Jesus: Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes. Não vim chamar justos, e sim pecadores, ao arrependimento.” (Lucas 5.30-32)
Jesus chamou os pecadores de doentes e disse que eles precisavam de um médico (um “salvador”). Contudo, Ele chamou os fariseus de sãos e disse que eles não precisavam de um médico (um “salvador”). A “doença” aqui é o pecado, e o “médico” é Jesus, na condição de Salvador. Porém, ao chamar os fariseus de sãos, Cristo não quis dizer que eles não haviam pecado, pois todos são pecadores. Jesus Se referia à maneira pela qual eles se viam aos seus próprios olhos!
Esta é a chave para entendermos o que o Senhor ensinou sobre “devermos muito ou devermos pouco”. Na verdade, isto não se refere à maneira como Deus nos vê, e sim à maneira como nós mesmos nos vemos! Não interessa o quanto pecamos e erramos em nossas vidas, e sim o quanto conseguimos enxergar das nossas próprias faltas e nos arrependermos!
OLHANDO PARA A VIDA DE PAULO
A prova disto pode ser vista na vida de Paulo. Ele também foi alguém que cresceu “certinho”, sem cometer grandes ofensas contra Deus:
“Bem que eu poderia confiar também na carne. Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais: circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu, quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível.” (Filipenses 3.4-6)
Ele declarou de forma enfática que, segundo a justiça que há na Lei Mosaica, ele viveu de forma irrepreensível. Portanto podemos dizer que ele se encontrava numa condição semelhante à minha de talvez pensar que jamais chegaria a amar tanto ao Senhor, pelo fato de não ter sido perdoado por Deus de uma dívida de pecado muito grande! No entanto, Paulo nunca agiu nem pensou desta maneira!
Podemos vê-lo demonstrando um grande amor pelo Senhor, não apenas pelo que fez (ele foi o apóstolo que mais trabalhou para Deus), mas também pelo que falou e ensinou à Igreja:
“Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.” (2 Coríntios 5.14,15)
Com base na afirmação de Jesus, que abordamos desde o início deste estudo, de que quem muito é perdoado também muito ama, eu faço a seguinte pergunta: “Será que Paulo poderia ter demonstrado um amor tão grande como demonstrou, sem a consciência de ter sido perdoado de uma dívida igualmente grande?” Não! Na verdade, ele tinha esta consciência! Ele se via como o pior de todos os pecadores:
“Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal. Mas, por esta mesma razão, me foi concedida misericórdia, para que, em mim, o principal, evidenciasse Jesus Cristo a sua completa longanimidade, e servisse eu de modelo a quantos hão de crer nele para a vida eterna.” (1 Timóteo 1.15,16)
Isto nos mostra que, ao falar sobre uma “grande dívida”, Jesus estava Se referindo à capacidade de entendermos a gravidade dos nossos pecados e de nos arrependermos. Sabemos que Paulo, como alguém que viveu de forma irrepreensível no tocante à Lei de Moisés (que era extremamente rígida), não foi um devasso, nem um ladrão, ou tampouco um bêbado, ou outras coisas que o rotulariam como um “grande pecador”. Contudo, ele se via assim, em função da sua rendição à ação do Espírito Santo e por desejar experimentar um profundo arrependimento.
ENXERGANDO AS NOSSAS FALTAS
Esta é a chave! Ao falar sobre os “muitos pecados” daquela mulher na casa de Simão, Jesus não Se referia ao fato de que ela era uma prostituta, e sim que ela enxergou profundamente a sua dívida para com Deus.
No momento em que Deus me deu este entendimento, Ele também me mostrou a minha vida sob um outro ponto de vista. Ele fez com que eu visse a minha sujeira e as minhas misérias! Ele fez com que eu visse que, se eu cresci perto d’Ele, isto não aconteceu devido a uma ausência de rebeldia em meu íntimo, mas porque, além de eu haver recebido instruções e ensinos bíblicos, eu também tive muitas orações e intercessões cobrindo a minha vida!
O Senhor fez com que eu visse quantas vezes eu quase me desviei d’Ele, e que essas batalhas foram ganhas pelos meus pais com orações intercessórias a meu favor. O Senhor fez com que eu visse os sentimentos, pensamentos, julgamentos e inclinações carnais que de tal maneira ainda existem em mim que eu me senti o mais miserável e pecador de todos os homens!
Aí então eu comecei a entender também porque o Diabo tenta nos transformar em pessoas religiosas e espiritualmente orgulhosas. Comecei a perceber que, quando os nossos corações perdem a capacidade de serem sensíveis a Deus e de se arrependerem, perdemos também a capacidade de crescermos em amor ao Senhor.
Jesus nos mostrou que temos grandes dificuldades em enxergarmos as nossas próprias faltas, muito embora tenhamos facilidade de enxergarmos os erros dos outros:
“Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão.” (Mateus 7.3-5)
Muitas vezes não enxergamos as nossas misérias porque não permitimos que o Senhor as mostre a nós. Mas, se começarmos a entender pelo Espírito de Deus (que nos convence do pecado) a dimensão dos nossos erros e pecados e verdadeiramente nos arrependermos perante o Senhor, então a consciência de tudo o que Ele nos fez encherá as nossas almas de gratidão, e acontecerá uma verdadeira revolução em nosso íntimo. Tiago desafiou os crentes de seus dias a praticarem o arrependimento, enxergando as suas faltas:
“Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Limpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai o coração. Senti as vossas misérias, e lamentai, e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo, em tristeza. Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará.” (Tiago 4.8-10)
O que é “sentir as nossas misérias”? É permitirmos que Deus faça com que enxerguemos a gravidade dos nossos pecados e nos aflijamos por eles!
O tamanho do nosso pecado e da nossa dívida não pode ser medido apenas pelas coisas que fizemos contra Deus, e sim pela forma como enxergamos (ou não) o que fizemos!
A CONSCIÊNCIA DO QUE CRISTO FEZ POR NÓS
Uma vez que temos a capacidade de vermos os nossos erros e pecados, também precisamos ser capazes de olharmos para a Cruz e para o sacrifício de Cristo, para assim nos mantermos conscientes do que Ele fez por nós!
Paulo dizia que o amor de Cristo o “constrangia” (2 Co 5.14). Quanto mais ele enxergava o amor de Deus em contraposição aos seus erros, tanto mais gratidão ele percebia brotando dentro de si. O Senhor não quer que nenhum de nós se esqueça do que Ele fez. Esta é a razão da Ceia Memorial que Ele instituiu, como escreveu o apóstolo Paulo:
“Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim. Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha.” (1 Coríntios 11.23-26)
Ao cearmos, anunciamos a Sua morte, até que Ele volte. Ao comermos o pão e bebermos do cálice em memória de Cristo, mantemo-nos conscientes do sacrifício que nos remiu!
Precisamos viver nesta esfera de consciência do que Jesus fez! Esta é a melhor forma de alimentarmos o nosso amor por Ele. Os cânticos do Apocalipse são um retrato claro de que esta ênfase de gratidão durará para todo o sempre! A morte de Cristo por nós parece ser uma das maiores ênfases no louvor e adoração lá na glória:
“E entoavam novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra. Vi e ouvi uma voz de muitos anjos ao redor do trono, dos seres viventes e dos anciãos, cujo número era de milhões de milhões e milhares de milhares, proclamando em grande voz: Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor.” (Apocalipse 5.9-12)
“Depois destas coisas, vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos; e clamavam em grande voz, dizendo: Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação.” (Apocalipse 7.9,10).
 De modo semelhante, também precisamos aprender a recordarmos constantemente o que Cristo fez por nós! Se aprendermos a viver com esta consciência, tudo será diferente! O nosso amor aumentará, e assim passaremos a viver com uma permanente dívida de gratidão com Deus!

Autor: Luciano P. Subirá. É o responsável pelo Orvalho.Com – um ministério de ensino bíblico ao Corpo de Cristo. Também é pastor da Comunidade Alcance em Curitiba/PR. Casado com Kelly, é pai de dois filhos: Israel e Liss
Fonte:www.orvalho.com



Compreendendo a Mordomia – por Luciano Subirá

Se tudo o que somos e temos pertence a Deus, então devemos viver como bons mordomos, administrando bem o que é do Senhor. O Dicionário Aurélio define “mordomo” como sendo “o serviçal encarregado da administração duma casa”. É alguém que cuida do que não é seu. Jesus usou o conceito de mordomia, aplicando-o a nós:
“Disse o Senhor: Quem é, pois, o mordomo fiel e prudente, a quem o senhor confiará os seus conservos para dar-lhes o sustento a seu tempo? Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, quando vier, achar fazendo assim. Verdadeiramente vos digo que lhe confiará todos os seus bens. Mas se aquele servo disser consigo mesmo: Meu senhor tarda em vir, e passar a espancar os criados e as criadas, a comer, a beber, e a embriagar-se, virá o senhor daquele servo em dia que não o espera, e em hora que não sabe, e castigá-lo-á, lançando-lhe a sorte com os infiéis.” (Lucas 12.42-46)
PRATICANDO A BOA MORDOMIA
Embora nesta parábola Jesus estivesse se referindo principalmente a coisas espirituais, Ele não deixou de incluir o aspecto natural e financeiro, uma vez que os nossos bens também são d’Ele. Prestaremos contas do que fizermos com o que Ele nos deu. A nossa vida, família, casa, e bens são do Senhor, e devemos administrar tudo isto como algo que Ele nos confiou.
Uma parte do nosso dinheiro volta a Deus na forma de contribuições, mas o restante não deixa de pertencer d’Ele e deve ser usado da maneira correta, bem administrado. Este é um princípio que deve ser entendido e vivido, antes mesmo da contribuição, que é só um pequeno aspecto da mordomia. Ao lermos a Parábola dos Talentos (Mt 25.14-30), encontramos este conceito de mordomia, que se aplica a todas as áreas das nossas vidas, inclusive a financeira.
Honrar ao Senhor com os nossos bens inclui a boa mordomia. Deus nos confia o que é d’Ele e ainda nos dá a liberdade de usufruirmos o que nos foi confiado:
“E, chamando dez servos seus, deu-lhes dez minas e disse-lhes: Negociai até que eu venha.” (Lucas 19.13)
No entanto, o fato de Ele nos deixar a escolha e a decisão do que faremos com o que Ele nos concede não significa que não haja uma forma correta de administrarmos o que é d’Ele.
O QUE DEUS ESPERA DE SEUS MORDOMOS?
O ensino de Jesus reflete princípios claros. Ele mostrou que Ele esperava a fidelidade da parte dos Seus mordomos:
“Quem é fiel no mínimo também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo também é injusto no muito.” (Lucas 16.10)
Observe que Jesus não Se refere apenas à honestidade, mas também à fidelidade. Isto significa que o bom mordomo não é só o que não rouba ou lesa o seu senhor, mas também o que se mantém no propósito que lhe foi confiado. É mais do que lealdade e confiança! É dedicação ao que foi combinado! Deus espera mais de nós do que simplesmente boa vontade e sinceridade! Ele espera que sigamos as instruções que Ele nos deu e o propósito revelado em Sua Palavra!
“Que os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus. Além disso, requer-se nos despenseiros que cada um se ache fiel.” (1 Coríntios 4.2)
A única forma de sermos fiéis ao Senhor como mordomos é entendendo o que Ele espera de nós, e isto está registrado em Sua Palavra. A mordomia não envolve somente a administração correta dos nossos bens, mas também dos dons e ministérios que o Senhor confiou a cada um de nós:
“Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus.” (1 Pedro 4.10)
Porém, a nossa relação com o nosso dinheiro e bens materiais é um excelente termômetro da atitude do nosso coração com relação à mordomia de forma geral.
A PRESTAÇÃO DE CONTAS
Cristo também nos ensinou que a mordomia é um cuidado temporário do que pertence a uma outra pessoa e que o verdadeiro dono exigirá uma prestação de contas da administração depois.
“E dizia também aos seus discípulos: Havia um certo homem rico, o qual tinha um mordomo; e este foi acusado perante ele de dissipar os seus bens. E ele, chamando-o, disse-lhe: Que é isso que ouço de ti? Presta contas da tua mordomia, porque já não poderás ser mais meu mordomo.” (Lucas 16.1,2)
Temos exemplos bíblicos de uma boa mordomia sendo louvada e também de uma má mordomia sendo punida. Ninguém pode fugir da prestação de contas. Vemos isto nos exemplos que Jesus deu na Parábola das Dez Minas e na Parábola dos Talentos:
“E aconteceu que, voltando ele, depois de ter tomado o reino, disse que lhe chamassem aqueles servos a quem tinha dado o dinheiro, para saber o que cada um tinha ganhado, negociando.” (Lucas 19.15)
“E, muito tempo depois, veio o senhor daqueles servos e ajustou contas com eles.” (Mateus 25.19)
Esta é uma ênfase encontrada em toda a Bíblia. Na Carta aos Hebreus, fica evidente que a prestação de contas é para todos, e que nada passará despercebido aos olhos de Deus:
“E não há criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas.” (Hebreus 4.13)
SEGUNDO A CAPACIDADE DE CADA UM
Alguns ficam com medo da prestação de contas, como se não fossem capazes de lidar com o que Deus lhes confiou, mas há um princípio inquestionável na mordomia instituída por Deus: Ele, em Sua sabedoria e justiça, nunca pedirá a ninguém para fazer alguma coisa que não consiga fazer.
Ele nunca trata conosco da mesma maneira com que Ele trata com outros, como que lidando por atacado. Ele conhece as nossas limitações e também a nossa capacidade. Ele sabe que não somos iguais uns aos outros e que uma soma de fatores coloca a cada um de nós em posições bem diferentes diante d’Ele.
“Porque isto é também como um homem que, partindo para fora da terra, chamou os seus servos, e entregou-lhes os seus bens, e a um deu cinco talentos, e a outro, dois, e a outro, um, a cada um segundo a sua capacidade, e ausentou-se logo para longe.” (Mateus 25.14,15)
O conselho divino dado a Faraó, por uma palavra de sabedoria pela boca de José, foi que era necessário alguém capaz, para assumir a mordomia da colheita dos sete anos de prosperidade que estavam por vir:
“Portanto, Faraó se proveja agora de um varão inteligente e sábio e o ponha sobre a terra do Egito.” (Gênesis 41.33)
De modo semelhante, Deus, que inspirou esta palavra dada por José, escolhe pessoas de capacidade para darem conta do que Ele lhes confiará. Primeiramente, Deus nos dá a capacidade, e depois Ele nos confia algo. Mesmo assim, Ele jamais nos deixa entregues à nossa própria capacidade, mas Ele mesmo Se incumbe de nos capacitar ainda mais para podermos fazer a Sua obra. Paulo falou disto, escrevendo aos irmãos da Igreja de Corinto:
“E é por Cristo que temos tal confiança em Deus; não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus, o qual nos fez também capazes de ser ministros dum Novo Testamento, não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata, e o Espírito vivifica.” (2 Coríntios 3.4-6)
Estas palavras não retratam alguém com uma consciência de capacidade própria, mas justamente o contrário! Precisamos entender que, no que diz respeito a nossos bens e recursos materiais, Deus também nos dará a capacitação para correspondermos ao Seu propósito. Mas isto não cairá do Céu, como uma fruta madura cai de uma árvore. É preciso buscarmos isto de Deus. Este é o conselho que recebemos de Tiago:
“E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não o lança em rosto; e ser-lhe-á dada.” (Tiago 1.5)
Assim como devemos buscar a sabedoria do alto mediante a oração e a fé, assim também devemos buscar o entendimento bíblico mediante o estudo e a meditação. Desta forma, alcançaremos uma boa mordomia!

Algumas Leis da Contribuição – por Luciano Subirá

Ao falarmos sobre a contribuição, não tornamos o assunto completo, apenas reconhecendo o memorial de contribuição que há perante o Senhor – nem mesmo ao explicarmos os três níveis de contribuição: dízimos, ofertas, e esmolas. Para crescermos nesta prática e nos benefícios que dela colhemos em nossas vidas, precisamos entender algumas das leis da contribuição estabelecidas nas Escrituras Sagradas.
Longe de abrangermos tudo o que a Bíblia ensina sobre o assunto, limitamo-nos a compartilhar, neste estudo, algumas das leis que temos descoberto e praticado.
EXPRESSÃO DE GRATIDÃO
Expressamos um sentimento de gratidão ao Senhor ao contribuirmos. Mas, por detrás do sentimento, encontra-se também a obediência a um princípio ou mandamento. Quando as Escrituras declaram que “Deus ama ao que dá com alegria” (2 Co 9.7), não quer dizer que a alegria coloca a contribuição numa condição opcional, e sim que Ele Se agrada de um coração que obedece alegremente um mandamento. Não contribuir, de acordo com o preceito bíblico, é andar desordenadamente, o que nos privará da plenitude de Deus.
“Mordomia” é a consciência de que nada do que temos nos pertence, e sim ao Senhor, e que devemos administrar os nossos bens para Ele da melhor maneira possível. A contribuição, por outro lado, é um contínuo lembrete de que somos mordomos e que não deveríamos nos apegar ao que não é nosso.
FIDELIDADE NO MÍNIMO
“Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é injusto no pouco também é injusto no muito.” (Lucas 16.10)
Não adianta dizermos que, quando Deus nos der mais dinheiro, então passaremos a contribuir. Se não o fizermos com o pouco que temos, não o faremos depois. Quem não dá dez por cento de cem reais de renda não dará dez por cento de uma renda de mil reais. Se você não conseguir fazer isto enquanto tiver pouco, não conseguirá fazê-lo depois. A corrupção está dentro do ser humano. O dinheiro somente traz à tona o que já existe por lá! Por isso precisamos de disciplina no contribuir, independen-temente de acharmos que fará diferença ou não!
Através das nossas contribuições, temos a oportunidade de nos exercitarmos na fidelidade. Pela disciplina da contribuição contínua, o nosso coração é treinado e o nosso caráter é aperfeiçoado. Precisamos ser fiéis ao Senhor e não aceitar nenhum tipo de desculpas para não contribuirmos.
SEGUNDO AS NOSSAS POSSES
Um outro princípio bíblico acerca da contribuição é que ela deve ser feita conforme a nossa prosperidade:
“Quanto à coleta para os santos, fazei vós também como ordenei às igrejas da Galácia. No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua prosperidade, e vá juntando, para que se não façam coletas quando eu for.” (1 Coríntios 16.1,2)
Ou seja, o Senhor não pede de alguém o que não esteja ao seu alcance. Algumas vezes vemos na Bíblia Deus pedindo algo precioso, como Ele fez com Abraão. Outras vezes vemos pessoas ofertando tudo o que possuíam, de modo sacrificial, e não podemos negar que o Espírito Santo possa tê-las movido em seu íntimo a agirem assim. O importante, no entanto, é não perdermos de vista o propósito de Deus:
“Porque, se há boa vontade, será aceita conforme o que o homem tem e não segundo o que ele não tem.” ( 2 Coríntios 8.12)
A contribuição é aceita segundo o que você tem, ou, em outras palavras, de acordo com as suas posses. Ninguém precisa ter um peso em seu coração por não poder ofertar mais. Algumas vezes tenho enfrentado momentos de tristeza em meu coração por não poder ofertar mais. Eu amo a causa do Evangelho, e, muitas vezes, eu gostaria de poder ter feito bem mais, de ter ido além do que eu já fiz na área das contribuições. Mas me conforta saber que Deus não espera de nós mais do que aquilo que podemos fazer. Ele espera que façamos a nossa parte – e que sejamos fiéis na parte que nos toca! Há um exemplo bíblico indiscutível acerca disto:
“Estando Jesus a observar, viu os ricos lançarem suas ofertas no gazofilácio. Viu também certa viúva pobre lançar ali duas pequenas moedas; e disse: Verdadeiramente, vos digo que esta viúva pobre deu mais do que todos. Porque todos estes deram como oferta daquilo que lhes sobrava; esta, porém, da sua pobreza deu tudo o que possuía, todo o seu sustento.” (Lucas 21.1-4)
Deus não vê e nem tampouco compara números. Ele vê a disposição do coração (e também a limitação da renda, das posses). Quem possui mais não é melhor do que aquele que tem menos condições, ainda que tenha a capacidade de ofertar mais. Quando Jesus foi dedicado no Templo, os Seus pais deram uma oferta de pessoas de menor poder aquisitivo, e, no entanto, esta oferta não perdeu o seu valor.
EXPRESSÃO DE GENEROSIDADE
“Portanto, julguei conveniente recomendar aos irmãos que me precedessem entre vós e preparassem de antemão a vossa dádiva já anunciada, para que esteja pronta como expressão de generosidade e não de avareza. E isto afirmo: aquele que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia com fartura com abundância também ceifará. Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria.” (2 Coríntios 9.5-7)
Deus não aceita o que é uma expressão de avareza. Em Atos 5, vemos que Ananias não foi generoso; pelo contrário, ele foi avarento e orgulhoso, e somente quis ficar em evidência com a sua oferta.
Deus não está atrás do nosso dinheiro, mas da nossa expressão de generosidade! Sem isto, a nossa oferta não vale nada! Deve haver em nós alegria ao contribuirmos. O apóstolo Paulo se referiu a isto como sendo uma “graça” (2 Co 8.4). É um privilégio servirmos a Deus com os nossos bens, e o Senhor não quer que o façamos por constrangimento, mas de coração! Não basta fazermos a coisa certa; temos que fazer do jeito certo. Dar é a coisa certa, mas dar generosamente é fazer do jeito certo. No Antigo Testamento Deus ordenou que o povo de Israel ajudasse aos pobres; mas advertiu a que fizessem da forma correta:
“Livremente, lhe darás, e não seja maligno o teu coração, quando lho deres; pois, por isso, te abençoará o Senhor, teu Deus, em toda a tua obra e em tudo o que empreenderes.” (Deuteronômio 15.10)
O Senhor não queria apenas que os pobres fossem socorridos, mas que aqueles que os ajudassem o fizessem com um coração correto. Deveriam ser movidos não só pela obrigação de ajudar, mas por um coração que se regozija ao ajudar alguém.
Escrevendo a Timóteo, Paulo pediu que ele exortasse “os ricos deste mundo a serem generosos ao dar”. Não bastava que eles fossem indivíduos que doassem dos seus bens e renda; as suas dádivas deveriam refletir generosidade.
“Exorta aos ricos do presente século… que pratiquem o bem, sejam ricos de boas obras, generosos em dar e prontos a repartir; que acumulem para si mesmos tesouros, sólido fundamento para o futuro, a fim de se apoderarem da verdadeira vida.” (1 Timóteo 6.17-19)
Uma boa forma de se medir se você é generoso na hora de ofertar é comparando-se quanto dinheiro você investe na Casa do Senhor com quanto você investe em seus entretenimentos e hobbies. Não consigo entender, por exemplo, um cristão que oferta menos do que aquilo que ele gasta na vídeo-locadora!
As Escrituras Sagradas nos revelam que, quando Jesus esteve no Templo de Jerusalém, Ele Se assentou diante do cofre das ofertas para ver como as pessoas contribuíam (Mc 12.41-44). Não está escrito que Jesus observava quanto ofertavam e sim como o faziam!
O texto mostra que muitos ricos lançavam ali muito dinheiro, mas, apesar de darem mais em comparação com os outros, eles não estavam dando nada além da sua sobra. Se as suas ofertas fossem comparadas com o seu poder aquisitivo, não se podia dizer que estavam dando muito.
Muitos crentes ofertam tão somente por obrigação; outros o fazem apenas por medo do Devorador. Outros, ainda, ofertam com a motivação de querer multiplicar o seu dinheiro. No entanto, a alegria do coração do verdadeiro doador é poder expressar diante de Deus a sua generosidade. É dar substancialmente!
PERIODICIDADE E CONSTÂNCIA
Este aspecto é muito importante. Há pessoas que testemunham que fizeram ofertas de sacrifício, e que houve ocasiões em que o Senhor tocou os seus corações para fazerem algo especial, mas, apesar destas experiências, elas não vivem uma prática regular e constante de contribuições. Paulo ensinou aos coríntios que devemos fazer isto de forma planejada e periódica:
“No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua prosperidade, e vá juntando, para que se não façam coletas quando eu for.” (1 Coríntios 16.2)
O apóstolo ensinou que a contribuição deveria ser pessoal, constante, e programada. A Igreja também deveria perceber aqui um princípio administrativo interessante: a necessidade de trabalharmos com fundos que servirão a propósitos específicos e previamente programados.
Também vale ressaltar que a expressão “conforme a sua prosperidade” sugere o cuidado da família antes do resto do mundo, sempre obedecendo-se à clássica ordem de prioridades: Deus, família, igreja, e depois os outros.
No próximo capítulo falaremos sobre a importância de semearmos com regularidade e perseverança. A Bíblia nos ensina que depois de termos começado a fazer o bem, não podemos desanimar no sentido de continuarmos a fazê-lo. A bênção do Senhor virá sobre os que não desfalecem, sobre os que não se cansam, nem se desanimam. Esta é a instrução bíblica:
“E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos.” (Gálatas 6.9)
As suas emoções, e até mesmo o próprio Diabo, com as suas sugestões malignas, tentarão desanimá-lo. Contudo, persevere e continue contribuindo periódica e constantemente.
PROVA DE OBEDIÊNCIA
Um outro aspecto interessante, usado na Bíblia em associação com a idéia de contribuição, é a questão da obediência. Paulo falou disto em sua Epístola aos Coríntios:
“Porque o serviço desta assistência não só supre a necessidade dos santos, mas também redunda em muitas graças a Deus, visto como, na prova desta ministração, glorificam a Deus pela obediência da vossa confissão quanto ao evangelho de Cristo e pela liberalidade com que contribuís para eles e para todos.” (2 Coríntios 9.12,13)
As minhas contribuições em todos os seus níveis (dízimos, ofertas e esmolas) são uma prova da minha obediência a Deus. Era assim que os líderes entendiam esta questão no início da Igreja. Quando viam as pessoas ofertando, eles entendiam que havia uma relação entre a sua liberalidade e a sua obediência ao Senhor e à Sua Palavra. Portanto, se nós somos falhos nesta área, estamos demonstrando quem realmente somos nas demais áreas! Além disso, Deus não precisa tanto da nossa contribuição quanto nós precisamos da Sua bênção por praticá-la!
Eu tenho um critério pessoal na escolha das pessoas que eu levanto para trabalharem comigo no ministério. Eu não me disponho a investir “pesado” em suas vidas e ministérios, se eu não perceber nelas uma grande disposição de semearem no Reino de Deus. Acredito que isto seja uma espécie de “termômetro de obediência”. Quem não obedece a Deus no dar também não O obedecerá em outros níveis de entrega e renúncia que o Senhor espera de nós.
Quando aquele jovem rico foi ao encontro de Jesus, ele recebeu d’Ele um convite para seguí-Lo, para ser Seu discípulo. Contudo, a condição que o Senhor lhe impôs foi vender tudo o que tinha e doá-lo aos pobres, para somente então seguí-Lo. Creio que esta condição estabelecida por Jesus foi uma espécie de peneira. Eu não acho que os ricos não possam exercer um ministério, mas creio que se não conseguirem demonstrar obediência no ato de dar, então tampouco conseguirão demonstrá-la em outras áreas.
Barnabé foi um dos ministérios de excelência do Novo Testamento, um homem com um coração pronto a investir em vidas. Entre as suas muitas virtudes, no entanto, a Palavra do Senhor destaca a sua liberalidade e prontidão de obediência nesta área específica:
“José, a quem os apóstolos deram o sobrenome de Barnabé, que quer dizer filho de exortação, levita, natural de Chipre, como tivesse um campo, vendendo-o, trouxe o preço e o depositou aos pés dos apóstolos.” (Atos 4.36,37)
Através das nossas dádivas, não só mantemos os nossos corações submissos a Deus, mas também transformamos o nosso dinheiro num servo dos propósitos do Seu Reino!
(Extraído do livro “Honrando ao Senhor Com Nossos Bens”, de Luciano Subirá)


Dízimo: Celebração da Redenção – por Luciano Subirá


É impossível discutirmos a fundo as questões da nossa vida financeira e da nossa contribuição ao Senhor sem entendermos o que é a Redenção. No Livro do profeta Malaquias, no clássico texto a respeito dos dízimos, encontramos este nível de abordagem. Ao falar sobre a da retenção dos dízimos e ofertas, Deus chama isto de roubo:
“Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, vós, a nação toda.” (Malaquias 3.8,9)
Uma abordagem do ponto de vista jurídico diria que o assunto abordado por Deus é uma questão de propriedade. Legalmente falando, envolve posse. E não há como falarmos de coisas que dizem respeito à propriedade de Deus, sem antes estudarmos a Lei da Redenção.
ENTENDENDO A REDENÇÃO
Para muitos cristãos, a palavra “redenção” não significa nada mais do que “perdão dos pecados” ou “salvação”. Mas o seu significado vai muito além disto!
A palavra “redenção” significa “resgate” ou “remissão”. Ela retrata o ato de se readquirir uma propriedade perdida. Antes de Deus estabelecer algumas verdades no Novo Testamento, Ele determinou que elas fossem primeiramente ilustradas no Antigo Testamento:
“Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente, eles oferecem.” (Hebreus 10.1 – TB)
A sombra é diferente do objeto que a projeta. Assim também, o que se via nas ordenanças da Antiga Aliança eram características similares (em ordenanças “literais”) às dos princípios que Deus revelaria nos dias da Nova Aliança (práticas espirituais). Por exemplo, o ato da circuncisão deixou de ser “literal” e passou a ser uma experiência no coração (Rm 2.28,29). A serpente que Moisés levantou no deserto se tornou uma figura da obra redentora de Cristo na Cruz (Jo 3.14). Assim também, outros detalhes da Lei que envolviam comida, bebida e dias de festa, começaram a ser vistos, não como ordenanças “literais” pelas quais quem não as praticasse poderia ser julgado, mas como uma revelação de princípios espirituais, cabíveis na Nova Aliança:
“Ninguém, portanto, vos julgue pelo comer, nem pelo beber, nem a respeito de um dia de festa, ou de lua nova ou de sábado, as quais coisas são sombras das vindouras, mas o corpo é de Cristo.” (Colossenses 2.16,17)
É desta forma que precisamos olhar para a Lei da Redenção no Antigo Testamento. Durante anos Deus fez o povo praticar pela fé uma tipologia do que Ele Mesmo um dia faria conosco. Foi assim com o sacrifício do cordeiro que os israelitas repetiam anualmente em várias cerimônias; por fim, vemos João Batista apontando para Jesus e dizendo:
“Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (João 1.29)
Paulo se referiu a Jesus como sendo o Cordeiro Pascal (1 Co 5.7). Vemos nestas passagens que as práticas repetidas por centenas e centenas de anos visavam levá-los a entenderem uma figura que só seria revelada posteriormente. Com a Redenção não foi diferente.
O Livro de Rute nos mostra Boaz resgatando (ou redimindo) as propriedades de Noemi. Ele estava readquirindo uma posse perdida.
Toda dívida tinha que ser paga. Se uma pessoa não tivesse recursos para honrar os seus compromissos, ela deveria dar os seus bens em pagamento, e, se também não fossem suficientes, ela deveria dar as suas terras. E, se isto ainda não bastasse para a quitação da sua dívida, o próprio indivíduo (e às vezes até a própria família) deveria ser dado como pagamento. Isto faria dele um escravo!
Lemos em 2 Reis 4.1-7 que uma mulher viúva teria seus filhos transformados em escravos se ela não pagasse a sua dívida. E, quando isto acontecia com alguém, só havia duas formas de esta pessoa sair da condição de escravidão: ou alguém teria que pagar a sua dívida (um redentor), ou ela teria que esperar nesta condição até que o Ano do Jubileu (que se repetia a cada cinqüenta anos; a exceção ocorria quando o escravo também era um judeu – Êx 21.2) chegasse. Veja o que a Lei dizia acerca disto:
“Se teu irmão empobrecer e vender alguma parte das suas possessões, então, virá o seu resgatador, seu parente, e resgatará o que seu irmão vendeu. Se alguém não tiver resgatador, porém vier a tornar-se próspero e achar o bastante com que a remir, então, contará os anos desde a sua venda, e o que ficar restituirá ao homem a quem vendeu, e tornará à sua possessão. Mas, se as suas posses não lhe permitirem reavê-la, então, a que for vendida ficará na mão do comprador até ao Ano do Jubileu; porém, no Ano do Jubileu, sairá do poder deste, e aquele tornará à sua possessão.” (Levítico 25.25-28)
Neste texto, que fala somente da perda da terra, e não da escravidão, vemos que havia três formas de alguém recuperar as suas posses:
• a redenção (o pagamento feito por um parente);
• o perdão da sua dívida, proclamado no Ano do Jubileu;
• a sua própria possibilidade de pagar caso viesse a prosperar (o que não ocorria no caso dos escravos).
Para o escravo, porém, só havia duas formas de ficar livre: o Jubileu (já vimos que a exceção a este prazo ocorria no caso de um hebreu ter sido comprado como escravo por um outro hebreu. Neste caso ele teria que libertá-lo depois de seis anos de servidão – Êx 21.2) ou a Redenção!
A redenção era o pagamento da dívida, feito por um parente próximo. Por meio do pagamento, ele comprava de volta tudo aquilo que se perdera. Assim a pessoa que fora escravizada não mais pertenceria a quem antes ela devia, mas ao que pagava sua dívida. Por exemplo: se eu me endividasse a ponto de perder todas as minhas posses e fosse transformado num escravo, e o meu irmão me resgatasse, eu não deixaria de ser escravo! Eu somente mudaria de amo! Eu passaria a ser escravo do meu irmão, porque ele me comprou!
E qual seria o proveito disto? De que adiantaria ficar livre de um, para se tornar escravo de outro? A diferença era que o novo dono era um parente e ele pagou aquela dívida por amor (uma vez que um escravo normalmente não custava tanto), e, justamente por causa do seu amor, ele trataria o escravo com brandura, com misericórdia.
O QUE CRISTO FEZ POR NÓS
Foi exatamente isto que Jesus fez por nós! Jesus Cristo nos comprou para Deus através da Sua morte na Cruz:
“… porque foste morto e com teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação, e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra.” (Apocalipse 5.9b,10)
O homem se transformou num escravo de Satanás ao render-se ao pecado no Jardim do Éden. A Bíblia declara que “aquele que é vencido fica escravo do vencedor” (2 Pe 2.19), e foi isto que ocorreu ao primeiro casal. Eles foram separados da glória de Deus e perderam a filiação divina. Adão foi chamado filho de Deus (Lc 3.38), mas esta condição não foi mantida. Quando Jesus veio ao mundo, Ele foi chamado de Filho Único de Deus (Jo 3.16), mas Ele veio mudar esta condição e passou a ser o Primogênito de muitos irmãos (Rm 8.29).
O Diabo se assenhoreou do homem e da Terra, que fora dada ao homem (Sl 115.16), e afirmou isto para Jesus na tentação do deserto (Lc 4.6). Mas Jesus veio pagar a nossa dívida do pecado, e, ao fazê-lo, garantiu a nossa libertação das mãos de Satanás:
“Ele nos resgatou do poder das trevas e nos trasladou para o reino do seu Filho muito amado, no qual temos a nossa redenção, a remissão dos nossos pecados.” (Colossenses 1.13,14 – TB)
Observe o termo “resgatou”, que aparece quando o apóstolo Paulo está falando que fomos transportados do Reino das Trevas e levados ao Reino do Filho de Deus. Depois, ele afirma: “no qual temos a nossa redenção”. Esta redenção foi um ato de compra, efetuado pelo pagamento da dívida do pecado:
“Tendo cancelado o escrito de dívida que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era contrário, removeu-o inteiramente, cravando-o na cruz; e tendo despojado os principados e potestades, os exibiu abertamente, triunfando deles na mesma cruz.” (Colossenses 2.14,15 – TB)
O Texto Sagrado revela que Jesus despojou os príncipes malignos. Segundo o Dicionário Aurélio, “despojar” significa: “privar da posse; espoliar, desapossar”. Isto nos faz questionar o que, exatamente, Jesus tirou destes principados malignos. O que eles possuíam que pudesse interessá-Lo? Nada, a não ser o senhorio sobre as nossas vidas! O despojo somos nós, que fomos comprados por Ele para Deus, e, a partir de então, passamos a ser propriedade de Deus. É exatamente assim que as Escrituras se referem a nós. Somos agora chamados de propriedade de Deus:
“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.” (1 Pedro 2.9)
Repetidas vezes encontramos a ênfase de que o Senhor Jesus Cristo nos comprou para Si. E o preço pago foi o Seu próprio sangue!
“Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo.” (1 Pedro 1.18,19)
Portanto, quando Jesus nos comprou, Ele nos livrou da escravidão do Diabo, mas nos fez escravos de Deus! Coisa alguma do que “possuímos” é de fato uma propriedade exclusivamente nossa. Nem as nossas próprias vidas pertencem a nós mesmos! Somos propriedade de Deus! Ele é o nosso Dono! Conseqüentemente, tudo o que nos pertence, é d’Ele também!
Referindo-se ao Espírito Santo em nós, Paulo O chamou de “o penhor da nossa herança, para redenção da possessão de Deus” (Ef 1.14 – ARC). Observe que o termo “herança” aparece associado aos termos “redenção” e “possessão”, pois é disto que o princípio da redenção sempre trata: o resgate da propriedade!
CELEBRANDO A REDENÇÃO
A consciência da Redenção deve provocar em nós uma atitude de gratidão e de culto a Deus. Paulo falou sobre vivermos uma vida de santidade, que é fruto desta consciência:
“Fugi da prostituição. Todo pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo. Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.” (1 Coríntios 6.18-20 – ARC)
O apóstolo deixa claro, em três frases distintas, a ênfase de que somos propriedade de Deus. Primeiro ele afirma que não somos de nós mesmos. Depois ele declara que fomos comprados – e por um bom preço! E finalmente ele diz que o nosso corpo e o nosso espírito “pertencem” (verbo que indica posse) a Deus.
Portanto, separar-se do pecado e santificar-se para Deus é glorificá-Lo por meio do corpo. Não é um culto de palavras, mas não deixa de ser uma exaltação. É um culto de santidade e boa mordomia! Celebramos a Redenção não só por meio de cânticos, mas também de atitudes. Quando reconhecemos que Deus comprou o nosso corpo e cuidamos dele com a consciência de que ele é de Deus, estamos cultuando ao Senhor.
Da mesma forma, há um culto que é expresso não só por meio de palavras, mas também por nossas atitudes em relação às nossas finanças. Assim como Deus redimiu o nosso corpo, Ele também redimiu os nossos bens. Logo, da mesma forma como o bom uso do corpo (em santidade) glorifica a Deus, assim também o bom uso dos nossos recursos financeiros, que são de Deus, O glorifica!
A SIMBOLOGIA DO QUE JOSÉ FEZ
José comprou para Faraó todo o povo egípcio:
“Findo aquele ano, vieram a José no ano seguinte e disseram-lhe: Não ocultaremos ao meu senhor que o nosso dinheiro está todo gasto; as manadas de gado já pertencem a meu senhor; e nada resta diante de meu senhor, senão o nosso corpo e a nossa terra; por que morreremos diante dos teus olhos, tanto nós como a nossa terra? Compra-nos a nós e a nossa terra em troca de pão, e nós e a nossa terra seremos servos de Faraó; dá-nos também semente, para que vivamos e não morramos, e para que a terra não fique desolada. Então disse José ao povo: Hoje vos tenho comprado a vós e a vossa terra para Faraó; eis aí tendes semente para vós, para que semeeis a terra.” (Gênesis 47.18,19,23)
O que aconteceu com este povo? Deixaram de pertencer a si mesmos e passaram a pertencer a Faraó! O seu gado, as suas casas, as suas terras – tudo pertencia ao rei do Egito! Eles se tornaram servos de Faraó, para cuidarem do que era dele!
O que Cristo fez conosco por meio do Seu sacrifício na Cruz foi algo semelhante. Isto é o que significa “redenção”. Originalmente éramos propriedade de Deus, mas a nossa queda e o nosso pecado nos roubaram isto. Quando Cristo pagou o preço da nossa dívida, Ele nos remiu da mão daquele que havia se tornado o nosso dono, o Diabo. Quando declaramos que somos servos de Deus, estamos reconhecendo que não pertencemos a nós mesmos, e que tudo o que temos na verdade pertence ao Senhor. Somos apenas mordomos de algo que não é nosso! Não nos atolaríamos em dívidas geradas em caprichos e excessos, se andássemos com esta mentalidade. Se sempre tomássemos decisões na área financeira, com a consciência de que os recursos empregados pertencem ao Senhor, cometeríamos menos erros.
Quando José comprou aqueles egípcios para Faraó, tudo o que era deles passou a ser de Faraó; logo, toda a renda deles deveria ir para Faraó. Mas o que fez o rei egípcio com o povo? Ele tomou tudo o que era deles? Não! Ele permitiu que eles usassem a terra e os demais recursos para que vivessem; mas, para que se lembrassem sempre que tudo o que eles tinham não era deles, um quinto da colheita (ou 20% da renda) ia para Faraó:
“Há de ser, porém, que no tempo das colheitas dareis a quinta parte a Faraó, e quatro partes serão vossas, para semente do campo, e para o vosso mantimento e dos que estão nas vossas casas, e para o mantimento de vossos filhinhos.” (Gênesis 47.24)
E o que os egípcios fizeram? Ficaram reclamando e dizendo que era injusto? Claro que não! A reação deles foi justamente o contrário:
“Responderam eles: Tu nos tens conservado a vida! Achemos graça aos olhos de meu senhor, e seremos servos de Faraó.” (Gênesis 47.25)
Viver como servos de Faraó era para eles um privilégio, pois nem vivos estariam, se não fosse a intervenção do rei! Eu vejo nisto um perfeito paralelo do que Deus fez conosco. As nossas vidas e tudo o que tínhamos passaram a pertencer ao Senhor, mas Ele não queria tomar tudo de nós! Ele queria que continuássemos vivendo! Ele queria que vivêssemos melhor do que viveríamos se não fôssemos mordomos Seus. É como se Ele estivesse nos dizendo:
“Vão em frente! Usem o que é Meu para que vocês possam viver as suas vidas e continuar produzindo, mas não quero que vocês se esqueçam que vocês são apenas mordomos do que não pertence a vocês. Então, de toda a sua renda Eu quero um décimo (dízimo) para Mim, além do que vocês me darão espontaneamente!”
E sabe o que muitos crentes ainda dizem?
“Isto não é justo!”
Como isto pode ser algo injusto? Ao invés de nos regozijarmos por pertencermos a Ele e podermos servir Aquele que redimiu as nossas vidas, reclamamos muitas vezes por termos que devolver um pouco do que é d’Ele. Isto é ingratidão! É falta de compreensão do que é a Redenção!
Há pessoas que consideram os dízimos como se Deus quisesse tirar dez por cento do que é nosso. Mas esta não é a perspectiva correta. É Deus que permite que fiquemos com noventa por cento do que é d’Ele! A maioria de nós ainda não conseguiu compreender que a entrega dos dízimos é uma forma de celebrarmos a Redenção. Ao dizimarmos, não só expressamos gratidão pelo que Ele fez por nós e nos mantemos conscientes do nosso lugar em nosso relacionamento com Deus, mas também realizamos um ato profético.
UM ATO PROFÉTICO
A entrega dos dízimos é um ato profético. Semelhantemente aos israelitas que, ao celebrarem a primeira Páscoa praticaram um ato profético, assim também fazemos algo semelhante ao dizimarmos.
Deus advertiu que naquela noite o Anjo da Morte haveria de matar todos os primogênitos dos homens e dos animais no Egito (Êx 12.12). Em todas as pragas anteriores, os hebreus haviam sido poupados, mas, naquela noite, a proteção não seria automática, mas dependeria de um ato profético, com um simbolismo espiritual. Cada um deles deveria aplicar o sangue do cordeiro da Páscoa aos umbrais de suas portas:
“O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; quando eu vir o sangue, passarei por vós, e não haverá entre vós praga destruidora, quando eu ferir a terra do Egito.” (Êxodo 12.13)
O sangue de um animal não tinha o poder de promover em si uma proteção espiritual. Ele era só um sinal, uma mensagem simbólica! Era um ato profético, por meio do qual eles reconheciam a redenção de Deus em suas vidas naquela noite e apontavam para o futuro, quando Cristo viria nos resgatar e nos proteger por meio do Seu sangue vertido na Cruz.
O interessante é que os hebreus não precisavam se proteger. Eles somente precisavam cumprir o sinal que foi estabelecido por Deus. Então, o próprio Deus cuidaria da proteção deles. Mas, se não O obedecessem, não fazendo o sinal de proteção, então a morte dos seus primogênitos seria inevitável:
“Tomai um molho de hissopo, molhai-o no sangue que estiver na bacia e marcai a verga da porta e suas ombreiras com o sangue que estiver na bacia; nenhum de vós saia da porta da sua casa até pela manhã. Porque o Senhor passará para ferir os egípcios; quando vir, porém, o sangue na verga da porta e em ambas as ombreiras, passará o Senhor aquela porta e não permitirá ao Destruidor que entre em vossas casas, para vos ferir.” (Êxodo 12.22,23)
Há algo que precisa ser entendido aqui. Deus diz: “Eu passarei pelas portas… Eu ferirei os primogênitos…” Em primeira instância, parece que é Ele fazendo tudo pessoalmente, mas não é isto o que vemos aqui. Vemos Deus determinando a execução do juízo, mas não exercendo-o sozinho e diretamente. O versículo 23 termina dizendo que Deus não permitiria que o Destruidor entrasse. Logo, quem executava as mortes não era Ele pessoalmente, mas um anjo. Vários textos do Antigo Testamento mostram enfaticamente Deus exercendo este juízo (Nm 33.4; Sl 135.8), mas a forma como Ele executou isto é o que estamos discutindo aqui.
E que anjo era este? Ele foi chamado de “Destruidor”. Curiosamente, este mesmo nome é dado ao Anjo do Abismo, cujo nome em hebraico é “Abadom”, e o nome em grego é “Apoliom” (ambos significam “destruidor”); e a Palavra de Deus declara que ele era o rei sobre os outros anjos que saíram do abismo (Ap 9.11)! No juízo que Deus determinou sobre a cidade de Jerusalém, o Anjo Destruidor também foi enviado (1 Cr 21.15). Satanás executa atos de juízo divino quando ele é liberado para ferir e destruir os que desobedecem. E não tenho medo de dizer que quem de fato exerceu o juízo de Deus naquela noite foi o Diabo, o Anjo da Morte.
As Escrituras dizem que um espírito maligno da parte do Senhor atormentava a Saul (1 Sm 16.14-16). Isto não quer dizer que o espírito maligno era do Céu, mas que ele foi autorizado por Deus para exercer juízo sobre quem se afastou deliberadamente do Senhor!
O sangue naquela noite era um sinal de propriedade. E o Diabo não pode ir além do sangue. Lemos em Apocalipse 12.11 sobre um grupo de fiéis que venceram a Satanás, e o texto revela que eles o venceram pelo sangue do Cordeiro! Satanás não pode tocar no que é de Deus.
Conheci pessoas que foram alcançadas por Jesus e que antes serviam aos demônios. Eu ouvi pessoalmente de algumas delas que, antes da sua conversão, elas tiveram experiências que as fizeram refletir sobre o cuidado de Deus com os Seus. Uma destas pessoas, a irmã Vilma Laudelino de Souza (hoje missionária), quando pertencia à magia negra, tentou matar uma crente com os seus trabalhos, mas o demônio disse que não poderia fazer nada contra tal pessoa, a qual, nas palavras dele mesmo, tinha um “espírito terrível”. Uma outra pessoa, o irmão Carlos (hoje pastor), quando ainda era um bruxo, tentou violar o túmulo de uma cristã, mas a entidade que lhe apareceu materializada no momento do trabalho disse que o Carlos não poderiam tocar naquele corpo, uma vez que ele pertencia a quem o próprio demônio chamou de “O Homem Lá de Cima”! Aleluia! Se até os restos mortais do crente, que sofreram decomposição, estão sob proteção divina, o que não dizer de nós hoje, de nossas famílias e bens?
Quando um hebreu estava colocando o sinal do sangue na porta, ele estava dizendo com aquele gesto que aquilo era propriedade de Deus e não podia ser tocado. E sempre que a Redenção está em questão, Deus decide defender pessoalmente o que é Seu. Foi assim na Páscoa, e é assim com os nossos dízimos hoje. Quando dizimamos, Ele Mesmo repreende o Devorador!
No momento em que o crente entrega os seus dízimos diante de Deus e de todo o reino espiritual, ele está reconhecendo a Redenção e a conseqüência de ter a Deus como seu Dono, bem como de tudo o que lhe pertence. Diante deste reconhecimento, o Senhor mesmo afasta o Devorador e protege o que é d’Ele. E o Diabo não se atreve a tentar tocar no que pertence a Deus!
Mas, quando desobedecemos o mandamento referente aos dízimos, estamos declarando que Deus não é o Dono destas quantias. E não só estamos roubando os dízimos (o que é uma apropriação indébita do que é de Deus), como também estamos nos apropriando dos noventa por cento que ficam. E, ao fazermos isto, o Diabo está de longe, assistindo tudo. Aí então ele diz: “Ah, este dinheiro não é de Deus? O que é de Deus eu não posso tocar, mas o que é seu…”
E é aí que as perdas ocorrem! Devemos fazer dos dízimos um ato de celebração da Redenção. O número dez está ligado à simbologia da Redenção. Mesmo quando ele fala de prova (nos Dez Mandamentos) ou juízo (nas dez pragas), é porque a Redenção está por trás da história. O cordeiro da Páscoa deveria ser escolhido no dia dez do mês de Abib (Êx 12.3). Ao entregarmos os nossos dízimos, devemos ser gratos pela Redenção e compreender que, através deste gesto, redimimos os noventa por cento da renda restantes para administrá-los para o Senhor.
PERDAS E GANHOS
Muitos não entendem a bênção e a maldição mencionadas por Malaquias em sua profecia. Acham que Deus ameaça os Seus filhos, para que O obedeçam por medo, mas não se trata disto!
Vimos que o Diabo não pode tocar no que é de Deus, mas ele pode tocar em nosso dinheiro quando deixamos de reconhecer a Deus como Dono de tudo o que temos. Devido ao nosso pecado de roubarmos o que é de Deus, o Maligno encontra uma brecha para nos tocar. Esta é a razão pela qual a maldição fere os que negligenciam a entrega dos dízimos. As perdas se manifestam em decorrência de uma maldição, a qual, por sua vez, entra em nossas vidas pela desobediência.
Por outro lado, a bênção proveniente da fidelidade nos dízimos também precisa ser entendida. Ela não se trata de uma recompensa por um bom comportamento, mas dos princípios que estão sendo devidamente aplicados pelo cristão. Será que há ganhos para os que dizimam? Claro que sim! Mas eles não devem ser vistos como se Deus estivesse aumentando o nosso patrimônio, e sim como uma forma de Deus aumentar o patrimônio d’Ele, sob nossa mordomia. Jesus nos ensinou um princípio que rege vários aspectos da vida cristã:
“Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é injusto no pouco também é injusto no muito.” (Lucas 16.10)
Se não dizimarmos o pouco que Deus nos confiou, mas O roubarmos, com uma atitude de infidelidade em nossa mordomia, Ele não nos confiará mais, pois continuaríamos sendo injustos no muito. Esta infidelidade impede a bênção financeira sobre quem retém os dízimos!
Por outro lado, quem é fiel no pouco também o será no muito. Se demonstrarmos obediência, dizimando o que já temos, Deus nos confiará mais dos Seus bens. Esta é a prova que determina quem receberá mais do Senhor e quem não receberá!
MANTENDO-NOS CONSCIENTES
Jesus instituiu uma Ceia Memorial para que sempre recordássemos o que Ele fez por nós na Cruz (1 Co 11.24,25). O Senhor conhece a nós, como também a nossa inclinação ao esquecimento do que Ele fez por nós. Portanto, Ele estabeleceu uma forma de nos manter conscientes do que Ele fez. Os dízimos também servem para este mesmo propósito. A sua relação com a Redenção deve nos manter conscientes de que Deus é o nosso Dono e que somos propriedade Sua.
Assim como a Ceia faz parte de um culto de gratidão e anuncia uma mensagem (a morte do Senhor até que Ele venha – 1 Co 11.26), assim também a entrega dos dízimos celebra a Redenção e testemunha à nossa consciência que pertencemos ao Senhor. É interessante observarmos que a primeira menção dos dízimos na Bíblia aparece justamente num contexto de redenção (Abraão resgatando o seu sobrinho Ló), juntamente com a tipologia da Ceia: Melquisedeque (que recebe os dízimos) veio ao encontro de Abraão, trazendo pão e vinho. Quando temos o Culto de Ceia na igreja que eu pastoreio, deixamos para entregar os nossos dízimos no momento em que participamos da Ceia. Assim como celebramos a Ceia, lembrando o que o Senhor fez por nós na Cruz, assim também celebramos a Redenção ao entregarmos os nossos dízimos.
Quando você entregar os seus dízimos em sua igreja local, faça-o com esta consciência. Uma atitude correta com relação ao que você oferece ao Senhor é um passo vital para você desfrutar das Suas bênçãos!
(Extraído do livro “Honrando ao Senhor Com Nossos Bens”, de Luciano Subirá)


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