segunda-feira, 22 de abril de 2013

Cristãos brasileiros deixam prisão no Senegal, mas não podem sair do país


Portas Abertas
“Quando apresentamos provas de que eles não possuíam ocorrências em suas respectivas fichas criminais, ambos foram temporariamente libertados”, contou Uziel Santana, em relação ao processo dos missionários brasileiros José Dison da Silva e Zeneide Moreira.
Leia mais sobre o caso aqui.
“Eles deverão se apresentar na prisão de 15 em 15 dias e não podem sair do país. Dentro de 30 dias após a sua liberação, eles serão julgados.” Nesse meio tempo, segundo Santana,  a ANAJURE está cuidando da legalização do Projeto Obadias.

A despeito do ocorrido, diversas fontes afirmaram que Silva esteve de bom humor durante o encarceramento, testemunhando de sua fé aos outros detentos. Em uma carta dirigida a sua esposa, Marli, ele escreveu: "Escreva a todos, até aos que estão no Senegal, que o inimigo irá colocar alguns na prisão, mas tudo será para a glória de Deus”.

A libertação dos dois missionários foi recebida com alegria e alívio por membros das comunidades cristãs da cidade de Thies. Um estrangeiro que frequenta os cultos dominicais da igreja batista disse à agência de notícias World Watch Monitorque houve lágrimas de alegria e um tempo de oração emocionante.
A prisão de obreiros cristãos estrangeiros sem um processo judicial levantou muitas questões em um país visto como modelo de democracia na África, também conhecido por sua cultura de tolerância.

Projeto Obadias
Silva, que trabalha no Senegal desde 2005, levantou o orfanato e Projeto Obadias em 2011, com o objetivo de tirar crianças das ruas, lhes oferecendo casa e comida, além de educação e atividades esportivas. Zeneide atua no abrigo como a “mãe” que muitos pequenos não têm.

Milhares de crianças no oeste africano, provenientes de famílias da zona rural pobres demais para criá-las, são enviadas para grandes cidades, ainda e tenra idade – aos 3 e 4 anos – para receberem ensino. Esse ensino consiste primariamente de aulas sobre o Alcorão. Esses “talibes” ou “estudantes do Alcorão” precisam mendigar nas ruas, sob a supervisão de talibes mais velhos, e estão sujeitos a diversos maus-tratos.

Na maioria das vezes, vivem em meio à pobreza. Em março, nove crianças morreram em um incêndio numa escola corânica em Senegal. Quando as crianças se tornam adolescentes, saem dos cuidados do imame e devem tomar conta de si mesmas e encontrar um emprego.
História de tolerânciaO Senegal faz fronteira com o Mali e a Mauritânia, e 94% de seus 13 milhões de habitantes são muçulmanos. A convivência entre eles e a minoria cristã tem sido pacífica. O primeiro presidente do Senegal, Léopold Sédar Senghor (de 1960 a 1980) era católico, e recebeu a visita do papa João Paulo II em 1992.
Essa cultura de tolerância tem sido percebida de várias maneiras no Senegal: cristãos e muçulmanos são enterrados nos  mesmos cemitérios de diversas cidades.
Entretanto, como em muitos países do oeste africano, o Senegal tem alto índice de pobreza e desemprego generalizado. O tráfico de seres humanos e a  exploração infantil são sérios problemas sociais, a despeito da economia relativamente estável.
Nos últimos anos vêm sendo relatado alguns ataques contra cristãos. Sete igrejas evangélicas foram saqueadas ou incendiadas entre 2010 e 2011, incitando uma forte reação da Aliança de Evangélicos do Senegal. Seu presidente à época, pastor Eloi Sabel Dogue, condenou tais ataques e pediu que a lei fosse respeitada uma conferência de imprensa realizada em 1º de julho de 2011.
“Nem a Constituição do Senegal nem a Carta Africana de Direitos Humanos nem a Declaração de Direitos Humanos da ONU e, menos ainda, nossos valores culturais podem ser mencionados como justificativa para tais atos”, disse ele.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Igreja de Garissa, no Quênia, permanece lutando


Portas Abertas
Há pouco menos de um ano, a Igreja do Interior da África (AIC, sigla em inglês) foi atacada por extremistas islâmicos. O incidente, que ocorreu em 1º de julho de 2012, matou 17 pessoas e dezenas de fiéis ficaram feridos. Recentemente, a Portas Abertas Internacional teve contato com os cristãos que ainda vivem em Garissa
"Eu estou bem agora!", afirmou Lydia Ndavi, quando um colaborador da Portas Abertas quis saber como ela tem estado. "Às vezes, sinto muita dor em toda a perna que foi baleada, fora isso, estou indo bem e tenho permanecido firme com Jesus. Mas, para ser honesta, eu deixo de ir a alguns cultos aos domingos por medo. Ao ouvir rumores de outro ataque, fico atemorizada. Nas duas últimas semanas não fui à igreja por causa disso. " 

Quando perguntada se ainda sofre com ataques de pânico durante a noite, Lydia respondeu: "Eu tenho dormido bem e, ultimamente, não acordo ao menor ruído, como antes. O único problema é a preocupação e o temor, que me impedem de frequentar os cultos tanto quanto eu gostaria."

Confiando em Deus, mas ainda assustadosEsse parece ser o resumo dos depoimentos de cristãos que ainda se encontram em Garissa
Caleb* confirmou que a Igreja, em Garissa, luta para continuar de pé, mesmo em meio à contínua insegurança. Muçulmanos fundamentalistas ainda têm empresas e agentes de segurança cristãos, igrejas e pastores como alvos de seus ataques. Em seu depoimento, ele refere-se, entre outras histórias, ao assassinato de Abdi Welli, em fevereiro.

"Houve um êxodo em massa de não muçulmanos e cristãos nos últimos meses. A maioria das igrejas conta, agora, com menos de 50% de seus fiéis nos cultos. As pessoas deixaram a área temendo por suas vidas e pela segurança de suas famílias. Essas preocupações são válidas, não podemos culpá-los por tomarem essa decisão", disse Caleb.

Ele também acrescentou: "Nós, que estamos ficando para trás, estamos bem. Deus acalmou nossos corações, mentes e emoções, apesar da contínua insegurança. Minha fé continua forte e eu louvo a Deus por isso, mesmo que não seja fácil viver em um lugar como este, em que convivemos com o perigo constante."

Kaleli, pastor sênior da igreja AIC, em Garissa, falou à Portas Abertas: "Minha esposa Anna, que foi ferida no ataque, está melhor. Ela recebeu alta após 35 dias de internação no hospital; a cirurgia foi bem sucedida. Ela ainda sofre com dores, mas, sobretudo, Deus a tem sustentado."

Inicialmente, o casal estava determinado a ficar, Anna principalmente. Eles entendiam que partir significaria derrota. No entanto, eles têm percebido que precisam dar uma pausa aos seus filhos, traumatizados e suas famílias, no geral. 

"Meus filhos e familiares foram tão prejudicados com esse ataque que pediram para que nos mudemos. Vamos nos transferir até o final de abril. Por favor, ore por nós e pela igreja enquanto essa transição ocorre."

"Quanto a mim", compartilhou Kaleli, "estou vivo e saudável e louvo a Deus por isso. Mas é difícil ver uma congregação encolher tão radicalmente quanto a nossa. Na maioria dos cultos aos domingos, temos em média cerca de 60 pessoas, sendo que nos anteriores havia 200 que frequentavam regularmente! Eu percebo que também preciso me afastar um pouco, para me recuperar e me atualizar. Por favor, mantenha-nos em suas orações."

O nível de desânimo em Garissa é motivo de preocupação. A Portas Abertas garantiu ao pastor Kaleli que milhares de cristãos ao redor do mundo vão continuar orando por eles e pelo resto da comunidade cristã em Garissa. 

Através de visitas de encorajamento, vários tipos de treinamento e desenvolvimento socioeconômico, a Portas Abertas permanece intimamente envolvida com a Igreja em Garissa.

*Nome trocado para a segurança do cris
tão